terça-feira, abril 29

Obrigado

Este é um ano de farta colheita de caqui e de um belo outono nas montanhas.

O pequeno porto ficava na extremidade sul da península. Um motorista de uniforme amarelo com a gola roxa vinha descendo do andar de cima da sala de espera dos passageiros, onde havia uma pequena venda de confeitos ordinários. Defronte, um ônibus vermelho o aguardava com sua bandeirinha roxa erguida.

Uma mulher levantou-se, apertando o saquinho de confeitos, e lou ao motorista, que amarrava caprichosamente o cordão dos sapatos.

— Ah! Hoje é a sua vez. Que bom. Deve ser um bom sinal para esta menina ser levada pelo “seu Obrigado”. Talvez ela tenha muita boa sorte.

O motorista olhou a moça que estava ao lado, mas nada falou.

— Ficar adiando sempre não vai resolver, né? E daqui a pouco é o inverno. Eu tenho pena de mandá-la para longe com o tempo frio. Já que tenho que fazer isso, é melhor agora, que o tempo está bom. Assim, eu decidi levá-la.

Acenando com a cabeça, calado, o motorista se encaminha como um soldado e endireita a almofada do seu assento.

— Vovó, sente-se no primeiro banco. Quanto mais na frente, menos balança. Pois o caminho é longo.

A mãe está indo para a cidade onde passa o trem, a quinze ri para o norte, a fim de vender sua filha.

Balançando-se na estrada montanhosa, a moça está com a luz do seu olhar aprisionada pelo ombro reto do motorista. O uniforme amarelo vai se ampliando como o universo nos seus olhos. Através dos ombros, as montanhas se dividem e vão escoando para trás. O carro tem que transpor os dois pontos altos do caminho da montanha.

Alcança a diligência. Esta, encosta na beira da estrada.

Com uma voz clara e límpida, o motorista, numa intrépida continência, abaixa a cabeça como um pica-pau. Encontra-se com a carreta carregada de madeira. A carreta se encosta à beira da estrada.

— Obrigado.

Carroça grande, puxada por um homem.

— Obrigado.

Riquixá.

— Obrigado.

Cavalo.

— Obrigado.

Mesmo que ultrapasse trinta carros em dez minutos, ele não perde suas boas maneiras. Ele não perde essa postura mesmo que percorra os cem ri a toda velocidade. É como um tronco reto de cedro, simples e espontâneo.

O carro, que saíra do porto depois das três da tarde, acende a luz no meio do caminho. Cada vez que se encontra com um cavalo, o motorista sempre desliga a lanterna do carro para o animal. E assim,

— Obrigado.

— Obrigado.

— Obrigado.

Ele é o motorista com melhor reputação entre as diligências, as carroças e os cavalos, nos quinze ri da estrada.

Descendo na penumbra do terminal da praça, a filha sente o corpo balançar e as pernas flutuarem e, cambaleante, ela se apoia na mãe.

— Espere aqui. Fala a mãe, que corre atrás do motorista.

— Olhe, minha filha está dizendo que gosta de você. Eu lhe peço.

Eu imploro. De amanhã em diante, de qualquer modo, ela vai virar brinquedo de homens estranhos. É verdade, não é? Até mesmo uma senhorita da cidade, se viajasse dez ri no seu ônibus...

Ao amanhecer do dia seguinte, o motorista sai da pensão onde pernoitou e vai atravessando a praça com a postura de um soldado. Atrás dele, mãe e filha correm em passos miúdos. O ônibus vermelho que saiu da garagem o aguarda com sua bandeirinha roxa erguida e espera o primeiro trem.

A filha sobe primeiro e, umedecendo os lábios secos, acaricia o couro preto do banco do motorista. Sentindo o frio matinal, a mãe junta as mangas do seu quimono.

— Ai, ai. Vai levar a minha filha de volta? Agora de manhã, ela me chora e você me repreende. Minha compaixão foi o erro. Levá-la de volta eu levo, mas entenda que é só até a primavera, ouviu? Eu vou consentir porque tenho pena de mandá-la para longe numa época fria, mas quando o tempo esquentar eu não posso mais ficar com ela em casa.

O primeiro trem larga três passageiros para o ônibus. O motorista endireita a almofada do seu assento. A moça está com a luz do seu olhar aprisionada no ombro terno do motorista. Através dos ombros, o vento
matinal de outono vai se escoando para trás.

Alcança a diligência. Esta, encosta na beira da estrada.

— Obrigado.

Carroça puxada por um homem.

— Obrigado.

Cavalo.

— Obrigado.

— Obrigado.

— Obrigado.

Ele torna as montanhas e os campos, dos quinze ri do seu percurso, repletos de gratidão e retorna para o pequeno porto, que fica na extremidade sul da península.

Este é um ano de farta colheita de caqui e de um belo outono nas montanhas.
 
Yasunari Kawabata, "Contos da palma da mão"

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