Você, criança de olhos d’água, sabe quanto de imensidão?
Imensa é a força do seu desejo, a coragem de sua voz, a largura dos horizontes que devolvem aos pés o ímpeto de trilhas impensadas, inseguras e onde é impossível conter a curiosidade de seus olhos.
Imensa é a sina dos que transformam, a leveza dos que amam, a inteligência de quem conhece – antes de tudo – a largura de sua ignorância e, dela, extrai os mapas dos caminhos que levam ao conhecimento.
Imensa é a franqueza de sua idade, a sincronia com o universo, a intuição capaz de guiar as decisões, muitas delas com a chance de serem difíceis, doloridas, sacrificantes e, nem por isso, desnecessárias.
Imensa é a cadência vital de seu coração, a precisão de seus gestos, a esperança em dias melhores que venham a premiar a rotina de todos os que labutam neste mundo de Deus, com ou sem Ele por nós.
Imensa é a incerteza, imensa é a gratidão, imensa é nossa dívida para com as crianças descalças, famintas, com frio e sede; nossas dádivas repousam em seus sorrisos francos.
Você, criança de olhos d’água, sabe quanto de estreiteza?
Pois digo a você – há nos adultos incapazes de medir a envergadura de uma criança a maior iniquidade que se possa medir. Quem um dia teve a oportunidade de ver pousado sobre si o olhar profundo de uma criança e, nem assim aprendeu a lição de amor, estará vagando pelo mundo sem destino.
Quem nada aprende diante da imensidão dos olhos infantis, portadores da história de milênios sobre a face da terra, avalista de tudo o que um dia foi considerado altivo e sagrado, espelho de nossa própria contingência, emergência, insistência – fé –, constrói ao redor de si grades sem portas.
Há na fragilidade da criança o restauro da força humana. Protegê-la, nutri-la e ensiná-la será acessar nosso próprio potencial, imenso quando em nossas primeiras horas, débil se conduzido pela mesquinhez e pelo egoísmo.
Você, criança de olhos d’água, sabe quanto?
Ensina-me.

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