segunda-feira, maio 25

O destino dos livros está escrito nas estrelas

"Um dia, ela estava à beira de uma estrada quando apareceu uma carroça fazendo barulho - era uma carroça de feno, carregada de livros, puxada por vários cavalos. O carroceiro disse à minha mãe que estava levando os livros da bibliote­ca municipal para um lugar seguro para evitar que fossem destruídos.
Naquele tempo, minha mãe ainda era uma garota, ávida por leitUra e, ao ver um mar de livros, seus olhos se acende­ram como estrelas. Até aquele momento, ela só havia visto carroças carregadas de feno, palha ou até mesmo de esterco. Para ela, uma carroça cheia de livros era como alguma coisa saída de um conto de fadas. Ela, então, juntou coragem para perguntar:
- Por favor, o senhor não poderia me dar pelo menos um livro desta pilha enorme?
O homem sorriu, balançou a cabeça, pulou da carroça e foi abrindo um de seus lados dizendo:
- Você pode levar para casa tantos livros quantos forem deixados na estrada!
Os livros caíram, fazendo barulho, na estrada empoeirada e, num instante, aquela carroça estranha desapareceu numa curva. Com o coração batendo forte de alegria, minha mãe juntou todos os livros. Depois de limpar a poeira dos livros, ela descobriu que entre eles, por acaso, havia uma edição completa dos contos de Hans Christian Andersen. Nos cinco volumes, de várias cores, não havia uma só ilustração mas, milagrosamente, aqueles livros acenderam as noites que tan­to amedrontavam minha mãe. Ela havia perdido sua própria mãe durante aquela guerra. Quando lia aqueles contos à noi­te, cada um deles dava a ela um pequeno raio de esperança e, com um quadro silencioso, pintado com os olhos quase fe­chados, em seu coração, adormecia calmamente, pelo menos durante algum tempo...
Os anos se passaram e aqueles livros chegaram a mim. Eu sempre os levo comigo ao longo das estradas empoeiradas da vida".

Trecho da mensagem anual da International Boards on Books for Young People (IBBY) de 2006, escrita pelo teatrólogo eslovaco, Ján Uliciansky, premiado com o Triple Rose Prize, em 1998, o mais importante prêmio eslovaco para literatura infan­til

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