sábado, fevereiro 28

Nossos amigos, os livros




"Tenho amigos cujo convívio me é muito agradável. São de todas as idades e de todas as nacionalidades. Posso aproximar-me deles sempre que deseje, porque estão permanentemente a meu serviço. Nunca são enfadonhos e respondem, imediatamente, a todas as perguntas que lhes faço. Alguns ensinam-me a viver, outros ensinam-me a morrer. Uns, com sua graça, expulsam os meus cuidados e divertem-me; outros dão-me forças de alma e ensinam-­me a importante lição de restringir os meus desejos e só de mim depender. Abrem-me as avenidas da arte, pelo que dizem, preparam-me para encarar com justeza as situações da vida. Em paga dos seus serviços, apenas pedem que lhes conceda um lugar cômodo em qualquer parte de minha vivenda a fim de poderem estar em paz, porque esses amigos preferem a calma ao tumulto da sociedade - Os Livros".


Francesco Petrarca (1304 /1374)

sexta-feira, fevereiro 27

Capa 'censurada'


No fim de semana, durante a V Feira do Livro em Saldo e Últimas Edições, no centro de Braga, em Portugal, agentes , "sem qualquer mandado", recolheram de um dos livreiros cinco exemplares de "Pornocracia", de Catherine Breillat, editada pela Teorema, que reproduz na capa detalhe do quadro "A Origem do Mundo", de Gustave Courbet. A explicação pelo ato foi de que "a capa continha conteúdo pornográfico" e lavraram o auto. Segundo as autoridades, era uma medida preventiva para evitar "desacatos entre os livreiros e pais de crianças”, uma vez que alguns pais sentiram-se incomodados com o fato da capa suscitar a curiosidade dos filhos que ali brincavam".
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Quem falou, e muitíssimo bem sobre o fato em Braga, foi Jaime Bulhosa com "Censura aos livros", no blogue da Pó de Livros.

quinta-feira, fevereiro 26

Hemingway, vísperas de un largo viaje




Norberto Fuentes*
Ernest Hemingway se situó por última vez en la primavera de 1960 frente al estante de librero que empleaba como escritorio de trabajo. Ocupó parte de su tiempo en la escritura del reportaje El verano peligroso y dio los toques finales a París era una fiesta. Pero el momento de partir llegó y Hemingway puso en orden el escritorio, limpio de cuartillas emborronadas y de lápices de punta embotada. Colocó la máquina de escribir Royal Arrow sobre un ejemplar del Who's Who in America y dejó un par de lápices nuevos, las puntas afiladas, sobre la tabla, y también una docena de hojas de papel carbón Superior Quality en su caja de fábrica, el pedazo de mineral de cobre que servía de pisapapeles, los espejuelos, una tablilla con presillador, que utilizaba para escribir diálogos, y un libro que relata la conquista del Oeste.
Los espejuelos, de aro metálico, graduados para controlar la visión defectuosa de un miope, habían sido hechos en la óptica Lastra, de O'Reilly 506, en La Habana. El ejemplar de la edición de 1954-1955 del Who?s Who tiene doblada una esquina de la página 1.191, donde se informa de que Hemingway se educó en escuelas públicas y que contrajo matrimonio con Mary Welsh el 11 de abril de 1946, y se mencionan condecoraciones recibidas y acciones bélicas en que participó. También dice que pertenece a los clubes siguientes: Meyer, Philadelphia, Gun y Vedado Tennis. Los dos lápices son Mirado 174 No. 3. La tablilla con presillador fue un regalo de su primogénito, quien ordenó grabar una inscripción en la madera: «To Ernest from Jack».
Inconfundible caligrafía. El pedazo de mineral de cobre pesa 570 gramos. Las hojas de papel carbón están usadas y de ellas se puede extraer el texto de cartas de Hemingway. Cartas manuscritas. El método es difícil y laborioso. Su caligrafía es inconfundible en la parte azul de estas doce hojas. El otro libro en la tabla es Pictorial History of the West. Algunas de sus páginas estaban pegadas porque no hubo un buen corte de guillotina en la imprenta. Hemingway le prestó poca importancia al asunto. Nunca abrió el libro, que permanece cerrado como un ataúd.
Concluyó su última sesión de literatura en Finca Vigía, escribió algo sobre la rivalidad de Dominguín y Ordóñez, revisó un poco las memorias de París y cerró el taller. Mas ahora, sobre la llanura del mueble, faltan las pilas de papel gaceta, libros, folletos y periódicos que mantenía abiertos a su alrededor mientras trabajaba. Su costumbre era tender los papeles como si fueran sábanas, una manera de cubrir o guardar los manuscritos que estaba preparando. ¿O era que los tendía para tener una visión de conjunto? Las fotografías que le tomaron en los años 50 muestran a un hombre que laboraba en un incómodo cerco de papeles, con poco espacio libre para poner la máquina de escribir. Trabajando de pie, en bermudas, sin camisa, casi siempre descalzo sobre una piel de lesser kudú [antílope]; o con mocasines, sin medias, con una botella de agua de Vichy a mano.
*Norberto Fuentes é autor de "Hemingway em Cuba", publicado pela L&PM
(Leia mais no jornal ABC)

quarta-feira, fevereiro 25

Reaberta a mansão de campo de Agatha Christie


A casa de campo de Agatha Christie (1890-1976) em Devon, no sudoeste da Inglaterra, será aberta no fim de semana depois de anos de restauração. A reforma em Greenway levou quase quatro anos, em torno de 10 mil horas, e custou 6,4 milhões de euros mesmo empregando muitos voluntários.Os visitantes de Greenway, onde Christie viveu entre 1938 e 1959, poderão ver objetos da escritora, os salões onde recebia os amigos e até ouvir leituras dos últimos manuscritos.

O jornal espanhol El Mundo traz uma série de fotos do exterior e interior da mansão de Agatha Christie. Também o jonal La Vanguardia publica reportagem sobre a reabertura.

terça-feira, fevereiro 24

Quando o livro é uma paixão de casa


O escultor italiano Livio De Marchi, nascido em Veneza, é conhecido por suas criações em madeira. Mas De Marchi se superou ao unir sua paixão pelos livros e criar para a família uma casa no formato de livro em Tambre d'Alpago, uma comunidade da região do Vêneto com aproximadamente 1.521 habitantes. A "Casa de Livro", não só é montada com “livros” em madeira como tem toda a mobília semelhante a volumes, desde a mesa até as cadeiras e escrivaninhas.

segunda-feira, fevereiro 23

O computador e a flor

"El libro como objeto tiene algo especial que no dará la pantalla del ordenador, porque el ordenador, entre otras cosas, no tiene páginas entre las que dejar secar una flor en un poema que nos há emocionado"
Pilar Socorro

domingo, fevereiro 22

Um domingo com o velho Braga


Domingueira carnavalesca de vasculhar velhos alfarrábios e antigas revistas. Encontrar amigos perdidos em estantes e gavetas, tirar o pó do esquecimento e por a conversa em dia. E há sempre encontro oportuno como o texto (abaixo) inédito em livro, escrito pelo cronista Rubem Braga (1913-1990) e publicado há 50 anos na revista Leitura (outubro/1958). Uma raridade e um enorme prazer.

Um livro
Então lhe aconteceu parar diante de uma grande vitrina de livraria. Parou de um mo­do quase mecânico, fatigado de ter cami­nhado tanto tempo pelas ruas do centro: e atraído pelos títulos. Lembrou-se que antiga­mente freqüentava livrarias; sabia as novida­des que chegavam da Europa, encomendava livros de que via notícias em revistas estran­geiras, vasculhava lentamente os "sebos", ho­ras e horas, escolhendo pequenas brochuras encardidas que o interessavam. E se lembrou do estranho fascínio que subitamente exer­ciam sobre ele certos assuntos - por exem­plo, da impaciência dolorosa com que espe­rou ter dinheiro suficiente para comprar aquele grosso livro francês sobre heredita­riedade, que folheava de vez em quando e namorava todos os dias.
Eram gostos arbitrários, que duravam sema­nas ou meses, e variavam de história das re­ligiões a livros de aventuras polares. Várias vezes formou pequenas bibliotecas absurda­mente variadas que ia dispersando ao sabor de suas mudanças e viagens. E quando dis­tribuía esses livros por amigos ocasionais, na hora de arrumar a mala, sentia um grande prazer em se desfazer deles e de tudo o mais que possuía, de sair outra vez para outra ci­dade qualquer com sua pequena mala de poucas roupas, leve e livre.
Nunca aprendeu nada a rigor: acumumulava noções úteis e inúteis sobre mil coisas, guia­do apenas pelo capricho e pela curiosidade. Mas a verdade é que uma parte de sua vida estava nos livros, nos horizontes que eles abriam na vaga esperança de achar neles um caminho ou inspiração para não sabia o quê. E agora reparava - só agora repara­va - que no turbilhão medíocre de sua vida que ia passando, ele se afastara dos livros como quem insensivelmente vai deixando ve­lhos amigos.
E agora ali, diante da vitrina cheia de novi­dades, e alguns antigos livros raros, sentiu uma vontade de comprar muitos volumes, de fugir para alguma casa do interior com lon­gas tardes sossegadas, e passar os dias lon­ge da vida, lendo, sem pensar mais nada.
Mas a ideia de comprar trouxe-lhe a ideia de dinheiro: pensou em duas dívidas desa­gradáveis, e saiu andando com uma espécie de raiva humilde, que era uma espécie de resignação.

sábado, fevereiro 21

O mundo no bolso


Bolsos grandes o suficiente para caber o livro e o mundo. O espanhol Antonio Munoz Molina publica hoje, no jornal El País, uma deliciosa crônica sobre os tempos dos jeans e seus admiráveis bolsos, “exatamente desenhados para guardar livros”. Molina lembra bem a força do livro, um objeto frágil de papel, que as novidades tecnológicas não conseguem destruir.
“Meu Quixote da Austral, com sua austera sobrecapa cinza, ia comigo a qualquer parte sem pesar nada, e estava sempre disponível, sem medo que uma estrondosa inovação calculada para favorecer as vendas tornaria inacessíveis, de um dia para o outro, seus arquivos”.
O escritor argentino Alberto Manguel também trata do assunto em um delicioso texto de "Lecturas liliputienses" na mesma revista Babelia.

sexta-feira, fevereiro 20

Pausa para a folia


É Carnaval. O Baile da Leitura já está pronto. A livraria já fechou as portas por cinco dias para a folia livresca dos proprietários. O último “folião” deixou a loja com um ingresso para A montanha mágica, de Thomas Mann, e os desejos de um bom Carnaval. Saiu feliz da vida, afirmando que a felicidade quem estava dando a ele era a livraria.
Os proprietários tem baile garantido em muitos volumes já reservados. Reserva especialíssima.
Na livraria, o Carnaval vai ser comandado pela prateleira de música. Esperemos que os livros se comportem bem durante a folia e estejam sóbrios quando voltarmos.
Evoé, Momo
PS:O blog continua no Carnaval. Afinal a folia livresca não tem dia
(ilustração de Ziraldo)

quinta-feira, fevereiro 19

Ouvidos na livraria #2

- Nunca vi livraria que não vendesse caneta!
Reclamou o freguês, revoltado com a "novidade" de uma loja com tanto livro que não vende lápis, caneta ou cadernos. E saiu vendendo azeite

quarta-feira, fevereiro 18

A biblioteca de 800 mil livros


"Estais ouvindo o alarido que fazem esses livros? Falam ao mesmo tempo em todas as línguas. Discutem sobre tudo: Deus, a natureza, o homem, o tempo, o espaço,o bem, o mal, o conhecido e o desconhecido. Examinam tudo, contestam tudo, afirmam tudo, negam tudo. Raciocinam e divagam. Uns são graves, outros frívolos; uns são alegres, outros tristes; uns são prolixos, outros, concisos. São 800 mil nesta sala, e não há dois deles que pensem exatamente da mesma forma".

(Anatole France, "As sete mulheres de Barba Azul")

terça-feira, fevereiro 17

É preciso livro... e poesia



Quando há tantas avalanches sobre corrupção, nepotismo, apropriação indébita de cargos e dinheiro públicos, conivência de muitos com desmandos como se fosse tudo natural, o melhor refúgio é o livro. Ler se torna um verdadeiro descarrego dessas mazelas. Castelo inexpugnável de sadia imaginação, dá força para se ir levando.
Não é à toa que a escritora, ensaísta e poeta Margaret Atwood deu uma entrevista para o jornal espanhol ABC em que ressalta a importância da poesia nos tempos atuais,”quando o ser humano tende mais a meditar e a apreciar a arte e, com isso, a poesia”.
(Foto: Rapariga lendo livro, de Pablo Picasso)

segunda-feira, fevereiro 16

Livro e história


O II Seminário Livro e História Editorial, entre os dias 11 e 15 de maio, será aberto com encontros internacionais na Biblioteca Nacional e na Academia Brasileira de Letras. O restante do evento, com conferências, mesas-redondas, comunicações coordenadas, reunirá no campus Gragoatá, em Niterói, investigadores franceses e brasileiros numa parceria da Universidade Federal Fluminense com a Université de Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines. (Leia mais)

domingo, fevereiro 15

Velha paixão pelo papel e pena


Bloquinhos, canetas, lápis, cadernos ainda fazem parte do cotidiano do escritor no Brasil. A criação ainda passa pelo artesanato do papel e da pena mesmo em tempos de computador. É o que mostra Juliana Krapp em uma interessante reportagem publicada no JB Online com o título “Literatura em bloco: cadernos ainda fazem parte da vida de escritores”.
Afinal, mesmo na era do lap top e do palm, quem gosta de livros sempre tem também uma paixão secreta pela papelaria. Quem não fuçou muita velha papelaria recolhendo aqueles cadernos que foram sua paixão na infância? Quem ainda não guarda, para começar aquele romance, um caderno muito especial, no qual só lá poderá surgir a inspiração?

(Foto: Reprodução do caderno de notas de 1906 da naturalista Edith Holden, "A alegria de viver com a natureza", publicado em edição fac-similar, em 1981, pela Editorial Blume)

sábado, fevereiro 14

Livro ensina mesmo esquecido

Entre a livralhada, um volume fechado. Na única vez em que foi manuseado, ficou marcado pela dedicatória na folha de rosto. O autor revela carinho e agradecimento. Hoje é uma vaga lembrança entre os editores já de tão pouca memória. Que dirá entre os leitores!
O ofertado se contentou em ler as críticas dos jornais. Vive badalado e bajulado. Na noite do autógrafo, preferiu a fotografia e a reportagem com o autor. De olho na lente do fotógrafo, ajustava a mira para, quem sabe, cair numa cadeira acadêmica. O autor era mais uma pedra na pavimentação da estrada dos refletores. Ao lado do autor, foi citado como um dos maiores intelectuais do país. A prova do desprezo pelos homens jogou no sebo.
O livro tem disso. Ensina até mais sobre os homens mesmo quando sequer foi lido. Uma frase de amizade num livro virgem que foi colocado de lado com muitos outros. Nenhum deles lido. Essas pedras usadas no caminho se dispersaram nos sebos. Agora o autor, tão doce em vida e humano nas letras, está pronto a, enfim, oferecer o que escreveu a quem é realmente digno dele: o verdadeiro leitor.
(Anotações líricas de velho alfarrabista)

sexta-feira, fevereiro 13

Computadores aposentados terão um fim digno

- É a nossa última ideia para decoração: estante de livros
(Ilustração de Gabor Geszti no seu álbum de humor "O computador enguiçou", publicado em 1985)

quinta-feira, fevereiro 12

Sarau de casa em casa


A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) desenvolverá a partir de março atividades de leitura em bairros periféricos de São Carlos, no interior paulista. O projeto Sarau Itinerante: Práticas Coletivas de Eco-Leituras visa contribuir na criação e implementação de ações motivadoras nas comunidades carentes.
Depois de cada Sarau os participantes poderão levar para suas casas os livros, que serão discutidos nos próximos encontros, com enfoque, especificamente, nos assuntos de meio ambiente. Os agentes culturais serão responsáveis pela divulgação da sessão de leitura junto aos seus vizinhos e conhecidos e colaborarão para uma efetiva a distribuição de livros a todos. "A originalidade desse projeto se deve ao fato dele ser itinerante, ou seja, o sarau será feito cada dia na casa de um morador", afirma a professora Zaira Regina Zafalon.
(Ah, se algumas cidades, a exemplo de São Carlos, gastassem assim com a leitura! Infelizmente há secretários de Cultura que preferem colocar o dinheiro público para projetos de roda de samba em bar)

quarta-feira, fevereiro 11

Leitura na areia: iniciativa merece aplauso


O projeto Biblioteca Cidadã na Areia se encerra no fim de semana nas praias paranaenses de Guaratuba, Ilha do Mel, Ipanema e Caiobá. As tendas de 100 m² contam com um acervo de cerca mil livros para empréstimo gratuito, computadores, televisão com DVD, armários, mesas e cadeiras, oferecendo ao público uma estrutura completa e confortável. A Secretaria de Cultura do Paraná divulgou que, na primeira semana, 800 veranistas freqüentaram as tendas e houve em torno de 100 empréstimos por dia.
Apesar do trabalho de divulgação da leitura nas areias durante as férias ser conhecido em outros países, é a primeira vez que uma Secretaria de Cultura no Brasil toma tal iniciativa. Outras regiões com imenso potencial em termos de extensão de praia bem que podem fazer projetos semelhantes, até mesmo maiores. Resta disposição em favor da leitura, e não aquele olhar cobiçoso nos dividendos ao se colocar os famigerados shows com bunda de fora.

terça-feira, fevereiro 10

Inéditos de Cortázar em edição para bibliófilos



Três inéditos do argentino Julio Cortazar (Almuerzos, Never stop the press e Vialidad) que ficaram de fora do livro Histórias de Cronópios e Famas, lançado em 1962, ganham agora uma edição para bibliófilos. A obra foi apresentada pela viúva do escritor, Aurora Bernárdez, no Centro de Arte Moderna de Madri. Com uma tiragem de apenas 100 exemplares produzidos artesanalmente pelo calígrafo José María Passalacqua e a ilustradora Judith Lange, tem o custo unitário de 260 euros.
(Leia mais no jornal El Clarín)

segunda-feira, fevereiro 9

Mercado está apreensivo com o abalo na economia

São Paulo - A crise que os Estados Unidos atravessam começou com inúmeras dívidas não pagas no mercado imobiliário desenrolou em uma queda no mercado de ações, no câmbio e, conseqüentemente, no crédito, o que passou a ser uma das maiores preocupações de economistas e empresários. Os efeitos podem ser sentidos em todo o mundo, pois o problema afeta todos os setores do mercado, inclusive o editorial.
“A restrição de crédito tem realmente causado impacto nos negócios. Observamos nosso custo financeiro subir na casa de 20% além de verificarmos o enxugamento das linhas de crédito. Se até recentemente tínhamos livre trânsito no mercado bancário, com opção de escolher a instituição financeira, hoje já sentimos a falta de crédito”, afirma Márcia Cristina Bastos Garcia, gerente financeira da Editora Vozes, Petrópolis, Rio de Janeiro. A editora já foi informada por dois dos maiores bancos do país que não estão liberando crédito e não possuem linha para oferecer. Cristina diz que os demais bancos vivem um dia de cada vez, evitam negociar taxa de juros e não se comprometem em concessões de crédito por prazo superior a seis meses. “Em julho, negociamos a importação de um equipamento de R$2,5 milhões, que está previsto para embarcar em dezembro para o Brasil. Certamente a crise também impactará nesta operação, seja pela elevação do euro, seja pela elevação da Libor – London Interbank Offered Rate - (taxa de juros da Europa), seja pela redução do prazo de financiamento”, diz, apreensiva.
A gerente financeira teme que a que a restrição de crédito possa ir além. “Temos clientes, pessoas jurídicas, de porte pequeno e médio, que normalmente utilizam - ou utilizavam - linhas de desconto de títulos e capital de giro para movimentar o dia-a-dia de suas empresas. Com o aumento das taxas e a escassez na oferta dessas linhas, tememos que esses clientes reduzam seu volume de compras, ou ainda, se tornem inadimplentes”.
Alexandre Martins Fontes, 48 anos, diretor executivo da editora WMF Martins Fontes, São Paulo, acompanha com apreensão a atual crise financeira mundial. “Ainda não é possível fazer uma leitura precisa de suas conseqüências para o ramo editorial. Nossas vendas nos meses de outubro e novembro encontram-se nos níveis previstos para esse período.” Para a Martins Fontes, a restrição ao crédito afeta o trabalho de exportação. Alexandre afirma que, ao longo dos últimos anos, a empresa não teve dificuldades em receber antecipação das vendas feitas ao exterior, mas na última operação da editora, os bancos com os quais trabalha habitualmente têm tido dificuldade em aprovar a linha de crédito para essa modalidade. “Infelizmente, o mercado dos livros no Brasil ainda é muito pequeno e atinge essencialmente uma classe sócio-econômica restrita. Os poucos que compram livros no Brasil continuam comprando mesmo em momentos de crise. Estamos torcendo para que o impacto seja o menor possível para autores, editores e livreiros”, diz.
O economista Reinaldo Cafeo, membro do Conselho Regional de Economia, analisa o momento que o Brasil atravessa. “Na prática, já observamos uma crise de confiança. O governo brasileiro e sua equipe econômica não transmitiram aos agentes econômicos a real dimensão da crise internacional, taxando simplesmente como uma “marolinha” o que na prática não se confirmou. Lembra que duas importantes variáveis que conduziam o consumo das famílias – renda e consumo – e que categorias importantes conseguiram, ao longo de 2008, reposição salarial acima da inflação. “Na outra ponta, o mercado estava líquido, com financiamentos a perder de vista e, portanto, tirava proveito do aquecimento de demanda”. Com a crise e o pessimismo dos
agentes econômicos, ocorreu uma reversão do cenário”, afirma. E isso fez com que algumas pessoas, mesmo ainda não sendo afetadas diretamente pela crise, passassem a ter um comportamento mais cauteloso, adiando o consumo de bens que não essenciais. “Outras pessoas já sentiram isso diretamente, notadamente em setores que dependem do crédito e do comércio exterior”, diz.
Em relação ao mercado editorial, Cafeo acredita que essa precaução do brasileiro em com os gastos, poderá causar queda nas vendas. “No setor específico do livro, dado o hábito dos brasileiros de não incorporarem a leitura como rotina, o indicativo é que esse segmento poderá encolher. Como o valor médio do livro não se assemelha a de um eletroeletrônico, por exemplo, o setor será menos afetado pelo crédito, mas mais afetado pela cautela do consumidor”, avalia.
O economista prevê que 2009 será um ano de desaceleração, que atingirá todos os setores, inclusive o mercado editorial. “Mas avalio que será desaceleração e não recessão (crescimento negativo do PIB). Portanto, será o momento das promoções, da criatividade, das parcerias entre empresários e funcionários e, fundamentalmente, de estratégias para operar em nível de atividade menor, mas sem perder o horizonte de que mais cedo ou mais tarde a crise passará e quem fez a lição de casa nesse momento, estará mais fortalecido”.
Posição divergente tem o professor doutor em Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Fábio Sá Earp. Ele não acredita que a crise mundial afete o mercado editorial no Brasil no que se refere ao crédito. “Pelo lado do crédito não irá afetar, pois não existe e nem existirá falta de crédito no Brasil. As editoras praticamente não utilizam crédito em função da alta taxa de juros”. Para ele, poderá ocorrer uma queda nas exportações devido à recessão internacional, com isso diminuindo a renda da população e com isso a compra de livros.
(Fonte: Agência Brasil Que Lê)

Painel literário da Rússia do século XIX em revista


A edição de fevereiro da revista CULT traz o Dossiê com a obra de quatro expoentes da literatura russa do século 19: Dostoiévski, Gógol, Tchekhov e Tolstói. A professora Aurora Bernardini traça um painel histórico-literário da Rússia, discutindo os possíveis fatores que levaram ao surgimento de uma das mais ricas gerações da literatura mundial. Em seguida, artigos apresentam a arte desses quatro ícones e, ao final, uma bibliografia com sugestões das obras mais relevantes.
Na seção Entrevista, o antropólogo e filósofo francês Bruno Latour, autor da obra Jamais Fomos Modernos (1994), fala com exclusividade sobre a importância de criar novas disciplinas e novas coletividades.
A reportagem do mês destaca o Centro de Documentação e Memória do Teatro da Universidade Católica de São Paulo, que reúne periódicos, fotografias, cartazes, plantas arquitetônicas e gravações em áudio que documentam os 43 anos de história do TUCA.

domingo, fevereiro 8

‘O livro sofrerá pouco com a crise’


O editor Jorge Herralde, há 40 anos “alma e cabeça” da editora espanhola Anagrama, fala sobre o atual momento do livro no mundo para a agência EFE, em matéria publicada no jornal El Mundo. Segundo ele, o setor livreiro será o que sofrerá menos com a crise. Para Herralde, os apaixonados pela leitura trocam a bebida e as noitadas por uma visita às livrarias e a compra de livros.
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sexta-feira, fevereiro 6

Europa é uma "desilusão cultural"

Manuel Maria Carrilho, embaixador de Portugal na UNESCO, considerou que "a Europa é uma desilusão do ponto de vista cultural", referindo-se ao orçamento de "400 milhões de euros, divididos por 27 países, por sete anos" atribuído pela União Europeia para a cultura. Carrilho esteve no debate "Estado e Sociedade Civil na Cultura" do Fórum Cultura e Criatividade 09, em Matosinhos (Portugal), quando explicou que "é preciso recolocar na agenda política o 1% (do orçamento) para a cultura", revelou o jornal Expresso.
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quinta-feira, fevereiro 5

Passeando pelas livrarias


“Gosto dos livreiros e das livrarias, e de encontrar na ponta dos dedos que voltam as páginas a preguiça sussurrante das longas pausas sob as galerias do Odeon, entre as prateleiras de alfarrabistas gigantes da Quinta Avenida em Nova Iorque, ou entre as montras de Brentano’s, ornadas de livros luzidios como caixas de conserva Libby’s, perto da Quinta Avenida, ou em Piccadilly, na grande Faber and Faber, de Londres, onde existem as mais belas prateleiras de livros infantis do mundo, ou no Fritze em Estocolmo, cuja vitrina é laqueada como o casco de um iate que estivesse ancorado no Fredsgatan, ou no Mondadori, na Galeria de Milão (Peter Cheyney, em italiano, e Leonardo da Vinci, em inglês, acasalam bem nas prateleiras), ou então essa livraria de Laussanne, já desaparecida, que se encontrava ao lado de Pepiner como um refúgio de alta montanha para livros raros.”
(...) O dinheiro, seguramente, não faz a felicidade, mas ajuda a comprar livros. Eu regresso para casa, dia a dia, com mais alguns livros do que ela pode conter. Mas o amador de livrarias é como alguém que não pode deixar de convidar um hóspede inesperado à refeição improvisada: apertamo-nos um pouco, mas quando há para três, há para quatro. Morta é a casa onde não entram diariamente um livro e um novo visitante, novos amigos.
(... ) Gosto de que os livros partilhem minha vida, me acompanhem, flanem, trabalhem e durmam comigo, se misturem às venturas do dia e aos caprichos do tempo, aceitem encontros comigo em horas “impossíveis”, ronronem com a gata ao pé da minha cama, ou se espreguicem com ela sobre a grama, amassem um pouco suas páginas na rede de verão se percam e se reencontrem”.
(Claude Roy (1915/1997), in “Diário de viagens”, Prelo, 1962)
Foto: Visita de estudantes do 2° Grau à livraria Canto do Livro

quarta-feira, fevereiro 4

Livro nosso de todo dia



“O homem morre, o seu corpo volta a ser barro ou pó

- todos retornam à terra; o Livro, porém, fará

que a sua lembrança circule de boca em boca”

Papirus Chester Beatty IV


O livro, entre as criações humanas, reina como a mais digna do homem e é sua companheira do início ao fim da vida. As expressões cotidianas reforçam a presençado livro me nossas vidas. Quantas vezes ouvimos as reclamações sobre os sofrimentosalheios: “A minha vida daria um livro!” Quem também já não disse: “Minha vida é umlivro aberto”. Não só é um fiel guardião do que o homem pensa, esse bem precioso de ser na integridade. Também é um bom ouvinte. Tem até orelhas. Quantas não conversamos com ele? Discutimos com o autor, reclamamos da edição, nos queixamos de ser tão caro. Livro é o único objeto de cabeceira. Seja ele qual for. Companheiro inseparável, é nele que pensamos quando nos perguntam qual levaríamos para uma ilha deserta. E só levamos para essa ilha quem se quer ao lado, quem convive tanto conosco. Nosso nascimento está lá registrado no livro. Quando criança, é nele que vamos ver as figuras, folhear página a página as histórias, que um dia leremos. Depois vamos descobrindo ainda mais esse amigo. Contador de histórias, mestre maior com quem aprendemos lições de vida e para a profissão, companheiro de qualquer hora, até cabe no bolso – livro de bolso. Fidelidade até nos últimos momentos. É dele, o livro dos livros, que nos dão o“descanse em paz”. São inúmeros durante nossa vida: Livro de contas; Livro da Sabedoria; livro das crônicas; Livro de Horas; livro de ponto; livro de tombo; livro de registro; livro comercial. E quantos mais? Aqueles que amealhamos a cada época, por um sentimento, por uma necessidade. Na maioria das vezes, pelo prazer da leitura. Os que nos são presenteados. A nossa vida talvez possa ser contada por nossos livros. O bibliófilo francês Jules Janin definiu o que pode ser o epitáfio do leitor: “Muitos homens não deixaram outraoração fúnebre senão o catálogo de sua biblioteca”. Vai-se a carne, mas fica sua alma espalhada em pedaços, presenteada a amigos ou entregue aos sebistas. Vai recompor outras vidas, descobrir novos companheiros.
(Anotações líricas de velho alfarrabista)

terça-feira, fevereiro 3

Alpharrabio comemora aniversário com lançamento

A Alpharrabio Livraria, de Santo André, referência cultural na região do Grande ABC paulista, pela ininterrupta promoção, divulgação e fomento à cultura, inicia as comemorações de seus 17 anos, com o lançamento do livro Retratos Falhados, de Dalila Teles Veras, idealizadora da livraria, tem desenhos da artista portuguesa Constança Lucas, há várias décadas residente em São Paulo. A intensa programação, além de lançamentos de livros, inclui exibição de filmes, palestras e encontros com escritores. O lançamento acontece no dia 17, a partir das 18h30m.
A obra reúne três plaquetes (Vestígios, 2003; Solilóquios, 2005; e Pecados, 2006) publicadas pela Alpharrabio Edições (Santo André, SP). A elas junta-se um conjunto inédito de poemas em prosa, que dá título ao livro, e uma seleção de poemas, publicados esparsamente em jornais e revistas, denominada Espelhos. É mais um volume da Coleção Ponte Velha, criada pelo poeta e acadêmico brasileiro Carlos Nejar e pelo poeta português António Osório.

O Estado decide o que importar


Os funcionários do Ministério de Indústrias Ligeiras e Comércio (Milco), na Venezeula, estaria decidindo unilateralmente que livros, e em que quantidade, o país deve importar. A reportagem, assinada por Ana María Hernández G., foi publicada no jornal El Universal.
Diante do problema, editores já buscam alternativas e pretendem fazer impressões locais, apresar de também a indústria gráfica venezuelana está passando por uma crise.

segunda-feira, fevereiro 2

'A leitura pode ser um vício impunido'

Wilson Martins (crítico do Jornal do Brasil)
A infância, com os livros coloridos, e logo a adolescência, é a idade ideal para incutir nas crianças o vício da leitura – vício impunido, como o chamava Valery Larbaud. A imprensa, nas palavras do papa Gregório XVI, é uma arte execranda e detestável, ou se preferirmos a linguagem litúrgica haec detestabilis atque execranda, condenação que a acompanhou desde as origens. O que, aliás, continua até hoje: viciado irrecuperável, Annibal Augusto Gama refere que, “há cerca de sessenta anos, no pátio do Colégio dos Maristas, em Franca, os irmãos mandavam queimar uma boa centena de livros tidos como deletérios, entre eles alguns de Monteiro Lobato”, incinerado simbolicamente através dos tempos. A meiga Cecília Meireles qualificava de “detestáveis” os seus personagens, retomando, talvez sem querer, o vocabulário papal, enquanto os seus livros eram proibidos durante o Estado Novo de 1937: “o procurador Dr. Clóvis Kruel de Morais afirmava que o texto [de Peter Pan] era perigoso e alimentava nos espíritos infantis, 'injustificavelmente', um sentimento errôneo quanto ao governo do país' e 'incutia às crianças brasileiras a nossa inferioridade, desde o ambiente em que são colocadas até os mimos que lhes dão'” (Annibal Augusto Gama. Os diamantes de Ofir. Ribeirão Preto, SP: Funpec, 2008 e Marisa Lajolo/ João Luís Ceccantini, orgs. Monteiro Lobato de livro a livro. São Paulo: Imprensa Oficial, 2008).
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domingo, fevereiro 1

Ouvidos na livraria #1


“Dizem que tudo é criação de Deus. Queria saber onde Ele estava com a cabeça quando criou o cupim!”
(Reclamação de um desesperado livreiro, tentando recuperar um livro, infestado de bichos)

Clássicos revisitados

Clássicos como Reinações de Narizinho, Memórias da Emília, O Poço do Visconde e tantos outros, que permearam a infância de grande parte dos brasileiros, ganharam releitura de professores de diversas universidades brasileiras, com o lançamento de Monteiro Lobato, livro a livro: Obra infantil (512 páginas, R$ 62), coedição da Editora Unesp e Imprensa Oficial, organizada por Marisa Lajolo e João Luís Ceccantini.
Com um capítulo dedicado a cada um dos livros infantis publicados por Monteiro Lobato, o livro se ocupa da linguagem, da imagem, das ilustrações e dos conceitos editoriais do escritor, apresentando o percurso percorrido por Lobato em cada uma de suas obras.
Outro clássico revisitado é Joaquim Maria Machado de Assis, através do trabalho de Andrey do Amaral em O máximo e as máximas de Machado de Assis (368 páginas, R$ 49), editado pela Ciência Moderna A obra, escolhida no concurso cultural Pontos de Leitura 2008: Homenagem a Machado de Assis, do Ministério da Cultura, reúne de maneira bem didática as várias vertentes da obra machadiana. Nesse roteiro para ratificar a essência do conjunto de sua obra, há alguns poemas conhecidos e outros bem diferentes de sua característica, comentários e curiosidades sobre todos os romances e os trechos mais significativos de cada um deles, além de contos, crônicas e filmografia completa.