segunda-feira, dezembro 12

Guia de viagem por bons mistérios

Com muita felicidade, tenho reparado que este espaço no jornal tem servido como referência a leitores que se interessam por conhecer um pouco mais sobre literatura policial e de mistério, meu tema favorito. Através de emails, é comum que muitos leitores venham me pedir outras indicações de histórias de suspense, enigma, violência e tensão. Por isso, aproveitando que já é dezembro e as férias vêm aí, decidi escrever um breve “guia de viagem” pela literatura policial que sirva tanto aos marinheiros de primeira viagem quanto àqueles já íntimos da região, mas que podem ter deixado escapar algum ponto turístico importante.

Para começar, nada melhor do que uma visita ao berço da civilização policialesca. Em três contos protagonizados por Auguste Dupin, Poe fixou as bases arquitetônicas do gênero: “Os crimes da rua Morgue”, “O mistério de Marie Roget” e “A carta roubada”. São contos breves e potentes, vale conferir. Daí, seguimos para a primeira aventura de Sherlock Holmes em Londres com “Um estudo em vermelho” e a primeira aparição do belga Hercule Poirot, com “O misterioso caso de Styles”. Também escritos por Agatha Christie, a Rainha do Crime, três outros romances merecem atenção por quebrarem regras do gênero e trazerem inovações: “O caso dos dez negrinhos”, “O assassinato de Roger Ackroyd” e “Assassinato no Expresso do Oriente”.

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Auguste Dupin e Sherlock Holmes

Aos que curtem uma programação mais pesada, hardboiled, mas também tradicional, as pedidas básicas são “O falcão maltês”, de Dashiel Hammet; “A noiva estava de preto”, de Cornell Woolrich, e “O longo adeus”, de Raymond Chandler. Numa abordagem mais psicológica, o melhor de todos é “Pacto sinistro”, de Patricia Highsmith, minha autora favorita. E se a viagem incluir uma passada pelos tribunais mais tradicionais, devem entrar na lista “Tempo de matar”, de John Grisham; “Acima de qualquer suspeita”, de Scott Turow, e “Em defesa de Jacob”, de William Landay.

Se alguém passar mal na viagem, os hospitais oferecem boas possibilidades, como “Lavoura de corpos” e “Post-mortem”, de Patricia Cornwell; “Coma”, de Robin Cook; “O cirurgião” e “Corrente sanguínea”, de Tess Geritssen. Para quem gosta de visitar alguns museus, os thrillers históricos são ótimas opções, como “O nome da Rosa”, de Umberto Eco; “Traduzindo Hannah”, de Ronaldo Wrobel, e “O segredo do oratório”, de Luize Valente. Acha que acabou aí? Todo bom lugar tem um serial killer para nos causar medo e, na literatura policial, o melhor é o famoso Dr. Hannibal Lecter. Para quem não conhece, “O silêncio dos inocentes” é leitura imprescindível. Na Inglaterra pós-Agatha Christie, duas damas do crime merecem uma visitinha com chá e bolos: Ruth Rendell com seu “Um assassino entre nós”, e P.D. James com “O enigma de Sally”.

Pegando um avião para outros cantos do planeta, passemos pela França, com “O cachorro amarelo”, de Georges Simenon, “Tarântula”, de Thierry Jonquet, e “O homem do avesso”, de Fred Vargas. Na Itália, “A forma da água”, de Andrea Camilleri; na Espanha, “O labirinto grego”, de Manuel Vázquez Montalbán; na Suécia, “Os homens que não amavam as mulheres”, de Stieg Larsson; em Cuba, o recém-lançado box “Estações de Havana” com o detetive Mario Conde, de Leonardo Padura; na Islândia, “O silêncio do lago”, de Arnaldur Indridason; na Escócia, “O enigmista”, de Ian Rankin, ou “Domínio sombrio”, de Val McDermid; na Irlanda, “Rastros na neblina”, de Benjamin Black, ou “Porto inseguro”, de Tana French; na Noruega, “A vela do demônio”, de Karin Fossum, ou “Baratas”, de Jo Nesbo.

Dos romances policiais brasileiros já falei muito neste espaço, mas destaco o tempero carioca de “O Xangô de Baker Street” e de “O silêncio da chuva”, o caos paulistano de “O matador” e de “Bellini e os espíritos” e, claro, o batuque baiano de “O canto da Sereia”. Entre as publicações mais recentes, são imperdíveis “O sorriso da hiena”, de Gustavo Ávila; “Eu vejo Kate”, de Cláudia Lemes, “Pssica”, de Edyr Augusto, e as coletâneas Rio Noir e São Paulo Noir, que apresentam histórias de mistérios situadas em bairros dessas grandes cidades. Um bom romance policial é a melhor maneira de viajar pelo mundo sem gastar muito dinheiro. Afinal, a literatura policial pode ser tradicional, exótica, pop ou violenta. Compre sua passagem (só de ida) e se deleite nesses passeios cheios de cores, sabores, texturas e possibilidades.

Raphael Montes

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