segunda-feira, agosto 21

Como os pistoleiros do Velho Oeste

Leitores antigos têm certamente dezenas de histórias em que, como pistoleiros do Velho Oeste, andavam por toda parte os abomináveis sonetistas. Contra eles não havia defesa, legítima ou ilegítima. Ninguém, estivesse onde estivesse, podia considerar-se livre dos disparos de catorze fumegantes tiros, rimas ribombantes e perdigotos fatais.

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No dia 12, alguém pendurou uma placa no gradil do sobradinho: dá-se aulas de matemática. Na manhã seguinte, ao lado dela havia outra, colocada à noite por um vizinho sarcástico: precisa-se de professor de português.

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Até hoje as frases mais lindas, seja qual for seu autor, saem por aí molecas, jurando que são filhas de Clarice Lispector.

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Em mim alguma coisa se perdeu. Não uma dessas tolas, corriqueiras, daquelas mais useiras e vezeiras – mas a que definia que eu era eu.

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Do amor sou mau arquiteto. Por erros meus, ou o chão se abre em cratera ou então cai em ruínas o teto.

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Quando seu dia chegar, não fique impressionado, não se torne solene, não veja nisso um acontecimento incomum nem algum especial significado. Quando seu dia chegar, significará apenas que seu dia terá chegado.

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Isso é normal. Você deve continuar tentando. Um dia talvez alguém acredite que o que você vem fazendo há seis décadas merece o nome de literatura. Serão dois, então.

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Por mil razões você deve se conhecer. Uma delas é descobrir por que os outros são melhores.

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Posso dizer que sou autossuficiente em matéria de tristeza, mas nunca recuso abrigo a uma tristeza alheia.

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