segunda-feira, fevereiro 9

Mercado está apreensivo com o abalo na economia

São Paulo - A crise que os Estados Unidos atravessam começou com inúmeras dívidas não pagas no mercado imobiliário desenrolou em uma queda no mercado de ações, no câmbio e, conseqüentemente, no crédito, o que passou a ser uma das maiores preocupações de economistas e empresários. Os efeitos podem ser sentidos em todo o mundo, pois o problema afeta todos os setores do mercado, inclusive o editorial.
“A restrição de crédito tem realmente causado impacto nos negócios. Observamos nosso custo financeiro subir na casa de 20% além de verificarmos o enxugamento das linhas de crédito. Se até recentemente tínhamos livre trânsito no mercado bancário, com opção de escolher a instituição financeira, hoje já sentimos a falta de crédito”, afirma Márcia Cristina Bastos Garcia, gerente financeira da Editora Vozes, Petrópolis, Rio de Janeiro. A editora já foi informada por dois dos maiores bancos do país que não estão liberando crédito e não possuem linha para oferecer. Cristina diz que os demais bancos vivem um dia de cada vez, evitam negociar taxa de juros e não se comprometem em concessões de crédito por prazo superior a seis meses. “Em julho, negociamos a importação de um equipamento de R$2,5 milhões, que está previsto para embarcar em dezembro para o Brasil. Certamente a crise também impactará nesta operação, seja pela elevação do euro, seja pela elevação da Libor – London Interbank Offered Rate - (taxa de juros da Europa), seja pela redução do prazo de financiamento”, diz, apreensiva.
A gerente financeira teme que a que a restrição de crédito possa ir além. “Temos clientes, pessoas jurídicas, de porte pequeno e médio, que normalmente utilizam - ou utilizavam - linhas de desconto de títulos e capital de giro para movimentar o dia-a-dia de suas empresas. Com o aumento das taxas e a escassez na oferta dessas linhas, tememos que esses clientes reduzam seu volume de compras, ou ainda, se tornem inadimplentes”.
Alexandre Martins Fontes, 48 anos, diretor executivo da editora WMF Martins Fontes, São Paulo, acompanha com apreensão a atual crise financeira mundial. “Ainda não é possível fazer uma leitura precisa de suas conseqüências para o ramo editorial. Nossas vendas nos meses de outubro e novembro encontram-se nos níveis previstos para esse período.” Para a Martins Fontes, a restrição ao crédito afeta o trabalho de exportação. Alexandre afirma que, ao longo dos últimos anos, a empresa não teve dificuldades em receber antecipação das vendas feitas ao exterior, mas na última operação da editora, os bancos com os quais trabalha habitualmente têm tido dificuldade em aprovar a linha de crédito para essa modalidade. “Infelizmente, o mercado dos livros no Brasil ainda é muito pequeno e atinge essencialmente uma classe sócio-econômica restrita. Os poucos que compram livros no Brasil continuam comprando mesmo em momentos de crise. Estamos torcendo para que o impacto seja o menor possível para autores, editores e livreiros”, diz.
O economista Reinaldo Cafeo, membro do Conselho Regional de Economia, analisa o momento que o Brasil atravessa. “Na prática, já observamos uma crise de confiança. O governo brasileiro e sua equipe econômica não transmitiram aos agentes econômicos a real dimensão da crise internacional, taxando simplesmente como uma “marolinha” o que na prática não se confirmou. Lembra que duas importantes variáveis que conduziam o consumo das famílias – renda e consumo – e que categorias importantes conseguiram, ao longo de 2008, reposição salarial acima da inflação. “Na outra ponta, o mercado estava líquido, com financiamentos a perder de vista e, portanto, tirava proveito do aquecimento de demanda”. Com a crise e o pessimismo dos
agentes econômicos, ocorreu uma reversão do cenário”, afirma. E isso fez com que algumas pessoas, mesmo ainda não sendo afetadas diretamente pela crise, passassem a ter um comportamento mais cauteloso, adiando o consumo de bens que não essenciais. “Outras pessoas já sentiram isso diretamente, notadamente em setores que dependem do crédito e do comércio exterior”, diz.
Em relação ao mercado editorial, Cafeo acredita que essa precaução do brasileiro em com os gastos, poderá causar queda nas vendas. “No setor específico do livro, dado o hábito dos brasileiros de não incorporarem a leitura como rotina, o indicativo é que esse segmento poderá encolher. Como o valor médio do livro não se assemelha a de um eletroeletrônico, por exemplo, o setor será menos afetado pelo crédito, mas mais afetado pela cautela do consumidor”, avalia.
O economista prevê que 2009 será um ano de desaceleração, que atingirá todos os setores, inclusive o mercado editorial. “Mas avalio que será desaceleração e não recessão (crescimento negativo do PIB). Portanto, será o momento das promoções, da criatividade, das parcerias entre empresários e funcionários e, fundamentalmente, de estratégias para operar em nível de atividade menor, mas sem perder o horizonte de que mais cedo ou mais tarde a crise passará e quem fez a lição de casa nesse momento, estará mais fortalecido”.
Posição divergente tem o professor doutor em Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Fábio Sá Earp. Ele não acredita que a crise mundial afete o mercado editorial no Brasil no que se refere ao crédito. “Pelo lado do crédito não irá afetar, pois não existe e nem existirá falta de crédito no Brasil. As editoras praticamente não utilizam crédito em função da alta taxa de juros”. Para ele, poderá ocorrer uma queda nas exportações devido à recessão internacional, com isso diminuindo a renda da população e com isso a compra de livros.
(Fonte: Agência Brasil Que Lê)

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