Mais da metade da população brasileira não lê livros. É o que aponta a 6ª edição da Retratos da Leitura no Brasil, divulgada nesta terça-feira (19), que avalia o comportamento do leitor desde 2007, com resultados a cada cinco anos. Pela primeira vez desde o início da série histórica, a proporção de não-leitores foi maior do que a de leitores, com reduções todas as classes, faixas etárias e níveis de escolaridades. Foram mais de 7 milhões de leitores perdidos nos últimos cinco anos (e um total de 11,3 milhões desde 2015).
Segundo o levantamento, 53% das pessoas não leram nem parte de um livro, em qualquer mídia (física e digital), e de qualquer gênero, incluindo didáticos, bíblia e religiosos, nos três meses anteriores à pesquisa. O número cai para 27% se for considerado apenas a leitura de livros inteiros.
A média de livros lidos também diminuiu, de 2,6 para 2,4. O número cai para 0,82% por entrevistado se for considerada apenas a leitura de livros inteiros.
A pesquisa foi realizada pelo Instituto Pró-Livro (IPL), com uma amostra de 5,5 mil entrevistados em 208 municípios.
Coordenadora da pesquisa, a socióloga Zoara Failla aponta diversos fatores para a queda geral dos índices de leitura. Um deles seria a pandemia, com a quarentena impactando a alfabetização e o letramento dos mais jovens e na distribuição de livros.
Como consequência, as salas de aula deixaram de ser um lugar de leitura. Quando perguntados sobre os lugares onde costumam ler livros, a grande maioria cita a própria casa (85%). O espaço escolar foi citado por apenas 19%, o menor índice já registrado (e uma queda de 4% em relação a 2019).
Outro fator para a queda seria o aumento do tempo de tela entre a população: 87% do público leitor e e 70% dos não-leitores mencionaram usar a internet no seu tempo livre.
- O número de pessoas que usam o tempo livre para ficar na internet vem aumentando desde 2015 - explica Failla. - As telas estão roubando o tempo do livro. Na pós-pandemia, quem passou a ler mais já era leitor. Já a população que não lia ficou mais afastada do livro e do letramento. Há mais dificuldade de manter uma leitura em alto nível com capacidade crítica.
Segundo a pesquisa, a principal motivação para a leitura continua sendo o gosto pessoal, citado por 24% dos entrevistados. No entanto, o percentual daqueles que afirmam não gostar de ler subiu para 29%, superando os que dizem gostar muito (26%).
O desinteresse pela leitura cresce com a idade. Entre crianças de 5 a 10 anos, 38% dizem ler por prazer, índice que cai drasticamente para 17% entre adultos acima de 40 anos. Para Failla, os dados revelam que o Brasil está perdendo leitores potenciais, já que a queda de interesse e a ampliação no percentual de quem diz não gostar de ler é verificada a partir dos 14 anos.
Em sintonia com esses dados, a pesquisa também mostra que há uma proporção maior de pessoas que já ganharam livros da família (51%) do que entre não leitores (24%). Só que o hábito de presentear livros caiu de 63% em 2019 para 61% em 2024.
- As famílias estão dando menos livros de presente para os filhos e estimulando o entretenimento por telas - observa Failla.
A pesquisa buscou compreender também o papel da internet, das redes sociais e dos influenciadores digitais no hábito da leitura. No geral, apenas 2% dos leitores mencionaram que a indicação de um influenciador digital motivou a escolha de um livro para ler.
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