quinta-feira, junho 12

O professor, o juiz e os livros

Quando era estagiário em um escritório de advocacia, no início dos anos 1960, o jovem Eros Grau achou um livro precioso no sebo Gaze, que foi por décadas o mais completo de São Paulo. Ao retirá-lo da estante, emocionadas e exclamou um longo “Ooolha”, chamando a atenção de um senhor ao lado. “O que é isso, rapaz?” “É um livro que me interessa”, respondeu Eros. “Por que isso pode te interessar? É um livro velho, sem significado nenhum”, continuou o senhor, visivelmente empenhado em tomar o volume para si. “Como assim?! Esse é um livro de Aureliano Leite sobre o movimento de 1932”, retrucou um enfático Eros, procurando mostrar que conhecia a obra e seu autor. “E você sabe lá quem foi Aureliano Leite?!” “Sei perfeitamente. O filho dele é muito amigo de meu pai e esse é um livro de grande significado para montar os fatos históricos da Revolução de 1932”, continuou Eros. “Então, me dê esse livro!”, insistiu o senhor, para um interlocutor surpreso. Eros recuou, segurando o livro apertado contra o peito, enquanto o outro voltava à carga: “Estou pedindo que me empreste o livro!”
Eros recorreu ao dono do sebo, que lhe fez um sinal com a cabeça, sugerindo que cedesse. Na iminência de perder o “achado”, obedeceu. O senhor abriu o livro com ar de satisfação, pegou uma caneta e perguntou como Eros se chamava. Escreveu: “Esse livro pertence a Eros Roberto Grau, a quem deixo meu abraço fraterno. Aureliano Leite”.


"O leitor vive milhares de vidas antes de morrer, disse Jojen. O homem que nunca leu vive apenas uma"
  George R. R. Martin, “Dança com dragões”

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