quinta-feira, julho 10

O cão de Pavlov

O que Ivan Petrovich Pavlov e três executivos têm em comum? No segundo romance de José Carlos Mello (“O cão de Pavlov”, Octavo) descobrimos a conexão entre a teoria desenvolvida pelo cientista russo sobre o condicionamento comportamental, o trabalho corporativo e os hábitos no encravados no cerne da sociedade moderna. O quanto estamos condicionados a nos comportar de certa forma no trabalho e o que ocorre quando as amarras são desfeitas?

O texto percorre a vida de dois recém-aposentados em busca de uma ocupação, que se recusam se entregar ao ócio, e um terceiro que ainda está na ativa, mas que “é negligente com seus deveres, na busca permanentemente se aperfeiçoar na arte do nada fazer, trabalhar o mínimo possível para não ser demitido do seu emprego”.

Mello, que é leitor contumaz de Fiodor Dostoievski, traz várias referências do escritor para seu romance, por exemplo, sobre quando ele ficou aprisionado na Sibéria e decidiu contar como a rotina de uma vida pode ser direcionada de outra forma. O romance também dialoga com a temática do romancista russo ao abordar a ausência de virtudes e a degradação dos valores no mundo corporativo.

 “Condicionamentos de toda a existência não podem ser desfeitos de modo brusco sem deixar graves sequelas. Desde o nascimento, as pessoas são ensinadas a obedecer, a se ater a horários e prazos, a executar tarefas e a se enquadrar em hierarquias. De repente, mais velhos, são libertados das obrigações impostas por outros; não tem mais nada a fazer e ninguém a atender. A liberdade torna-se um castigo, uma punição pelo ócio que passam a viver. Ocorre o contrário do esperado ao longo da vida útil. O próprio qualitativo dessa primeira etapa indica que a partir de seu término a vida será inútil”.

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