sábado, agosto 16

Assim começa o livro...

Último volume do Quarteto de Alexandria

Cléa


As laranjas foram este ano mais abundantes e opulentas. Brilhavam nos seus ninhos de um verde pálido, como lanternas embaladas pelo vento, aparecendo aqui e além por entre as árvore batidas pelo sol. Era como se quisessem celebrar a nossa partida da ilha – porque finalmente a muito esperada mensagem de Nessim tinha chegado como uma intimação para regressarmos ao mundo das trevas. Uma mensagem que ia me atirar inexoravelmente de volta para a cidade que para mim tinha sempre pairado entre a ilusão e a realidade, entre a substância e as imagens poéticas que o seu próprio nome despertava em mim. Uma memória, pensei, que tinha sido falsificada pelos desejos e intuições e apenas semi-realizada no papel. Alexandria, a capital da memória1 Todos os escritos que eu fui buscar aos vivos e aos mortos, até eu próprio me tornar numa espécie de post-scriptum de uma carta que nunca foi remetida. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário