segunda-feira, novembro 10

Carolina e os livros

Jane Schnetlage
Os livros e a leitura são uma constante na obra de Carolina Nabuco (Maria Carolina Nabuco de Araújo -1890 / 1981). Presentes na vida da escritora, também são transportados para o romance “A Sucessora”, no qual a personagem Marina é uma grande leitora do final do século XIX, que lembra “a importância dos livros e das leituras em sua vida de menina”.

A mesma Marina iria cuidar da arrumação das estantes em na casa no Rio, que “traziam apenas alguns volumes de obras clássicas em francês”. Marina levou seus livros e “arrumou-os na mesma ordem em que os tinha na fazenda. A prateleira de baixo para livros grandes, de história e de crítica. Outra para poetas, clássicos modernos, em três línguas. A materna; o francês que aprendera em pequena nas viagens e o inglês que lhe ensinara uma governanta velha e rabugenta”.

O trecho do romance é bem autobiográfico e pode ser comprovado em “Oito décadas”, seu livro de memórias. Alfabetizada a partir dos cinco anos e logo familiarizada com o francês, que era “uma segunda língua materna”, Carolina recorda nas memórias a alegria de ganhar do pai, o estadista Joaquim Nabuco, de quem faria a biografia, o “verdadeiro milagre de receber de uma só vez quatro livros (incrivelmente quatro!) da pena da minha querida condessa de Ségur”. A escritora confessa que sempre foi dada à leitura, “mas os livros para crianças que existiam nas livrarias do Brasil eram só os que nos vinham da França”.

Carolina Nabuco nunca perdeu seu interesse pela condessa. “Quando de longe em longe, me acontece hoje abrir por acaso um livro dela, dou-me razão de ter em criança tanto admirado seu talento e tanto apreciado a fidelidade quase realista dos cenários de suas estorinhas”. 

Aos 14 anos, já “conhecia de muito o prazer da leitura”, mas foi com a descoberta de Charles Dickens, em David Copperfield, descobre o “gênio, mostrando caminhos ainda fechados”. Em suas memórias revive aquele período: “Carreguei o livro, nesse primeiro dia, para o nosso passeio, que naquela manhã era numa praia. Atirei-me sobre a areia para ler e fiquei alheia a tudo que não fosse meu livro”.


Só parou advertida pela governanta inglesa: “Manhã não é hora própria para se ficar lendo romance”.  

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