Aí a multidão de moradores de Toulouse, revoltada com a injustiça, cortou a faca as cordas que amarravam os vingadores, retirou-os dos carros e começou a gritar com eles, a plenos pulmões: “Morte aos judeus”, arremetendo contra o bairro judeu. Eu estava ocupado lendo e escrevendo quando um grande número dessas pessoas invadiu meu quarto, armadas com sua ignorância grosseira como uma marreta e com um ódio afiado como uma faca. Não foi à vista de minhas sedas que seus olhos se injetaram de sangue, mas à de meus livros, que enchiam as prateleiras; enfiaram as sedas sob os capotes e jogaram os livros no chão, pisoteando-os e rasgando-os diante de mim. E eram livros encadernados em couro, numerados, escritos por homens cultos, contendo, caso tivesse querido lê-los, mil razões para que me matassem ali mesmo, e contendo, se tivesse querido lê-los, remédios e bálsamos para seu ódio. Eu lhes disse que não os rasgassem, pois uma grande quantidade de livros nunca é perigosa, enquanto um só livro sim, é perigoso; disse-lhes que não os rasgassem porque a leitura de uma grande quantidade de livros conduz à sabedoria, e a leitura de um único à ignorância armada de loucura e ódio.Danilo Kis, Cães e livros
quarta-feira, abril 1
Perigo do livro único
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