terça-feira, junho 16

Meus livros errantes

Se alguma coisa que eu aprendi das muitas mudanças (pelos mares, continentes, arrumando e desmontando móveis para parafusá-los quem sabe onde, tomando os cartazes, sobre meus passos, me despedindo sempre, despedindo-me sempre, apagando vestígios para refazê-los, para apagá-los) é quanto eu gosto de ter livros, como sou indefesa sem eles.

Apenas os arrumo nas prateleiras, não importa língua falem, que horas são, quanta neve nos caia na cabeça. Gosto de saber que estão lá, mesmo quando não olho para eles, porque estou neles, porque sou eles.

Já estou acostumada a colocá-los em caixas, quando chegar o momento (e isso pode ser hoje, amanhã, em dois dias, em três anos, em dez, mas sempre chega). Empacoto-os um a um, caixa por caixa, até vão formando imponentes colunas e colunas de caixas empilhadas, que tecem labirintos e deixam apenas alguns centímetros entre elas. Em seguida, depois de fechar, selar, levantar, carregar, arrastar, empurrar tanto quanto com a força que não tenho, com todo o impulso deste corpo adoentado, e enviar para algum lugar, descartá-los.

E então, finalmente: desempacotar. Quem sabe quanto tempo mas descompacoto. Volto para acomodar os livros na ordem que me ditam, perseguindo o caminho exato que o caos me intui. Movendo caixas de livros é mover-me...

Mover as caixas de livros é me mexer, mudar, reinventar-me, rearrumar caminhos, buscar atalhos, dar com ruas fechadas, voltar, ir, girar, caminhar em idas e vindas e nunca perder-me.

Porque estão nas estantes. Porque me acompanham. Porque falam e me ensinam a calar.

Porque meus livros gastos, rabiscados, cheios de cicatrizes como eu, sulcados como a pele que me cobre, são de repente o que tenho, o mais meu: vejo em suas páginas minhas marcas digitais, as letras do meu nome

Nenhum comentário:

Postar um comentário