sábado, julho 4

Pesquisas

Andam todos os buquinistas do meu Rio Grande a procurar ansiosamente e amorosamente "A divina pastora". O título é um encanto, promete um clima idílico, de quando o amor existia. Espero que esses incansáveis cavaleiros andantes libertem um dia a sua dama. Quanto a mim, o meu sonho é que o acaso depare, aos humanistas que ainda existem na Europa, os livros até agora perdidos do "Satyricon" de Petronius Arbiter. Indago: pois não foram encontrados, sem que ninguém os procurasse, os preciosos manuscritos do Mar Morto? Ou será que os deuses em exílio já não podem igualmente fazer milagres? O encanto que eu tenho pelo Satyricon, ao contrário do que vocês podem pensar, é também um sentimento de pureza. O que nos fascina naquele delicioso cronista é a ausência da noção de pecado, como se estivéssemos ainda no Paraíso.
Mario Quintana

Publicado em 1847, no Rio de Janeiro, com o subtítulo “Novela Rio-grandense”, A Divina Pastora é o segundo romance na história da literatura brasileira. Dele, porém, não se conhecia um só exemplar, pois todos os da primeira edição tinham desaparecido misteriosamente, de modo que a obra se transformou em um dos maiores enigmas da nossa história cultural. Depois de 145 anos, finalmente, em 1992, o livreiro Adão Fernando Monquelat, de Pelotas, localizou em Montevidéu, no Uruguai, o único exemplar até hoje conhecido de "A Divina Pastora", que foi reeditado no mesmo ano.

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