quinta-feira, agosto 27

Aqui e além do horizonte

A composição poética tanka, que é constituída por 31 sílabas distribuídas em cinco versos (5-7-5-7-7), surgiu no Japão, por volta do ano 710. Sua origem está no waka, forma que “cantava” trechos históricos e legendários da vida do povo nipônico, cujo desenvolvimento se deu pela diferenciação de temas, que deixaram de ser direcionados somente à corte.

O poeta que compõe o tanka deve atentar para a instantaneidade, como se estivesse com uma câmara fotográfica pronta para o disparo, pois a construção dele parte da visualização de paisagens.

Raimundo Gadelha, com sua vivência e sentimentos ocidentais, faz seus tankas nos contagiarem, cercados que estão de fotografias muito próximas de nossa cotidiana realidade.

Com o livro "Um estreito chamado horizonte" (1991, Escrituras), Gadelha foi o primeiro brasileiro a escrever tankas; além de ser o responsável por influenciar a produção desta arte em seu país. Agora ele nos brinda com este "Aqui e além do horizonte" ( Escrituras).

Poeta sensível, visual e sinestésico, ele capta os elementos essenciais para seus tankas, ou seja, segue os padrões tradicionais, mantendo a métrica em 31 sílabas nos cinco versos. Adota também a tematização, voltando-se para a natureza − mar, chuva, montanha − de forma precisa, na essência, e relaciona, subjetivamente, as imagens a acontecimentos cotidianos, como alegria, tristeza, solidão, amor, saudade, nesse processo, infundindo o flash, um fiat lux epifânico que desvela a unicidade contida em sua visão poética do real.

Alguns de seus tankas são suaves como a leveza do vento; outros, duros como as rochas à beira do mar. O leitor ora se delicia com a delicadeza dos versos, ora vivencia expressões ásperas, mas carregadas de emoção, já que a poesia de Raimundo Gadelha é marcada por um fervor que, ao mesmo tempo, expõe a face terrífica do real. Seu constructo poético é feito de belas paisagens, numa combinação da ferocidade da natureza com a do homem, na qual o tempo instala a vulnerabilidade da vida. É a poética do silêncio, do dia, da noite, do sol, das cores, do amor, das lágrimas, das lembranças!

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