domingo, agosto 9

Assim começa o livro ...

Após a oração da alvorada, enquanto as nuvens da escuridão ainda resistiam frente à poderosa investida da luz, o vizir Dandan foi chamado para um encontro com o sultão Shahriar. A serenidade de Dandan desapareceu. O coração paterno estremecia à medida que vestia as roupas e murmurava: “Agora saberemos o resultado... Seu destino, Scherazade”. Seguiu pelo caminho que subia a montanha, montado num velho rocim e acompanhado por alguns guardas. À frente deles ia um homem carregando uma tocha, em um clima que irradiava orvalho e uma leve friagem. Três anos haviam se passado em meio ao medo e a esperança, a morte e a expectativa; três anos se passaram com a narração de histórias, e por causa dessas histórias a vida de Scherazade se estendera por três anos. No entanto, como tudo, as histórias haviam chegado a um fim, haviam terminado ontem. 

Portanto, que destino estaria a sua espera, querida filha minha? Entrou no palácio que se equilibrava no alto da montanha. O mordomo o conduziu a uma sacada situada nos fundos, com vista para um imenso jardim. Shahriar estava sentado à luz de um lampião: a cabeça descoberta, o cabelo preto abundante, os olhos brilhantes no rosto comprido e uma vasta barba esparramada no alto do peito. Dandan beijou o solo diante dele, sentindo, apesar de sua longa convivência, um secreto temor daquele homem cujo passado estava cheio de severidade, crueldade e sangue de inocentes. O sultão fez um sinal para que fosse apagado o único lampião. A escuridão tomou conta e os espectros das árvores que exalavam uma fragrância perfumada foram lançados na semiobscuridade. — Que fique escuro para que eu possa ver a luz se derramar — murmurou Shahriar. 

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