quinta-feira, outubro 12

Assim começa o livro...

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Encontro -me esta noite numa hospedaria na cidade de Salisbury. O primeiro dia de viagem agora terminou, e, no fim das contas, devo dizer que estou bem satisfeito. A expedição começou hoje de manhã, quase uma hora mais tarde do que o planejado, apesar de eu ter terminado de fazer as malas e carregar o Ford com todas as coisas necessárias bem antes das oito da manhã. Pois como Mrs. Clements e as meninas também tiraram uma semana de folga, acho que estava muito consciente do fato de que, assim que eu partisse, Darlington Hall iria ficar vazia, quem sabe, pela primeira vez neste século — ou pela primeira vez desde que foi construída. Era uma sensação estranha e talvez por isso eu tenha demorado tanto para partir, vagando pela casa muitas vezes, certificando -me uma última vez de que estava tudo em ordem.

É difícil explicar os meus sentimentos quando finalmente parti. Durante os primeiros vinte e poucos minutos de viagem, não posso dizer que tenha sido tomado por nenhuma excitação ou expectativa. Isso se deve, sem dúvida, ao fato de que, embora eu rodasse para cada vez mais longe da casa, continuava a me ver em locais com os quais tinha ao menos uma passageira familiaridade. Ora, sempre achei que havia viajado muito pouco, tolhido como sou por minhas responsabilidades na casa, mas evidentemente, ao longo do tempo, a gente faz diversas excursões por uma ou outra razão profissional, e, ao que parecia, eu estava muito mais familiarizado com aquelas localidades vizinhas do que imaginava. Pois, como estava dizendo, ao rodar ao sol na direção da divisa de Berkshire, continuei me surpreendendo com quanto a paisagem me era familiar.

Mas então a paisagem acabou ficando irreconhecível, e entendi que havia ultrapassado todos os limites anteriores. Já ouvi pessoas descreverem o momento em que o barco abre as velas, o momento em que finalmente se perde a visão da terra. Imagino que a experiência de inquietação misturada com alegria que sempre acompanha a descrição desse momento seja muito semelhante ao que senti no Ford, quando a paisagem em torno ficou estranha para mim. Isso aconteceu logo depois que fiz uma curva e me encontrei em uma estrada que circundava a encosta de uma colina. Dava para sentir o íngreme precipício à minha esquerda, embora não pudesse vê -lo por causa das árvores e da densa folhagem que ladeava a estrada. Fui dominado pela sensação de que havia realmente deixado Darlington Hall para trás e devo confessar que senti um ligeiro sobressalto — sensação agravada pela desconfiança de que talvez não estivesse na estrada certa, e sim correndo na direção errada, para algum ermo. Foi só uma sensação momentânea, mas me fez reduzir a marcha. E, mesmo depois de ter me certificado de que estava no caminho certo, me vi compelido a parar o carro um momento para fazer um balanço, por assim dizer.

Resolvi descer e esticar um pouco as pernas, e quando fiz isso tive a sensação ainda mais forte de que estava empoleirado na encosta de uma colina. De um lado da estrada, moitas e pequenas árvores subiam íngremes, enquanto do outro conseguia agora entrever na folhagem os campos distantes.

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