sexta-feira, maio 25

O pior time do mundo

Cafuringa Futebol Clube. Da cidade de Pilão Danado. Só interessava perder. Perder, perder, perder. Ganhar nem pensar. O pior time do mundo. Encontrasse um time pior, estivesse ganhando o jogo por um a zero, os defensores dessem um jeito, antes que o juiz trilasse o apito final. Fizesse logo dois pênaltis, um atrás do outro, a derrota não escapasse ao apagar das luzes. Torcedores iam ao delírio. Foguetes pipocavam. Gritos e gritos e gritos. Ê-Ô, Ê-Ô, Cafuringa é Perdedor! Ê-Ô, Cafuringa é perdedor.

O grito de guerra ecoava no estádio.

Costumava perder de goleada. Dez a zero a última, o auge da emoção, torcedores choravam, abraçavam-se. Noticiário com manchete empolgante na mídia. Plantão de notícia. A TV estampava. Mais Uma Derrota do Pior Time do Mundo. De goleada: treze a zero. O Cafuringa Futebol Clube não deu trégua ao Arempepe Esporte Clube, um que gostava também de perder, mas nem tanto como o rival.

O pior em campo: Gol-Contra. Zagueiro especializado em fazer gol contra. Na goleada última fez três. Um de cabeça, outro de bicicleta, o terceiro de bicuda, furou a rede..

Era a glória. Não cansava das derrotas. Não tinha jeito. Nasceu para perder, até a última gota de sangue.

Pergunta do repórter ao atacante Zé Velho:

– Vai acabar hoje a série centenária de derrotas contra o Pedrada Futebol Clube?

Sem hesitar, resposta contundente:

– Perder, perder, perder, uma vez perder, perder até morrer.

Bandeiras desfraldadas. Retrato dos ídolos tremulando. De arrepiar. Furão, Perna de Pau, Pereba, Azavesso, Frangueiro, Bola Murcha, Chulé. Os mais ovacionados. Ídolos sem igual. A foto na camisa do torcedor, rosto sorridente do craque Azavesso, desdentado, cabeludo. No álbum de figurinhas, disputado a peso de ouro pelos colecionadores.

Novos jogadores. O time rejuvenescido. Ganhou de repente por um a zero, a zebra aconteceu contra o Bagunça Futebol e Regatas. Ganhou outra, a terceira seguida. Não era possível! Meu Deus, tem pena da gente, o presidente suplicou, as mãos rogando para o céu. Demitido o técnico.

Os torcedores inflamados, sonoro protesto, passeata aos gritos. Desaprovação geral no estádio. De-Canela, ex-astro do time, hoje chefe da torcida organizada, chegou a queimar a camisa do time.

O time entrando no gramado, apupos, xingamentos, ameaças. Um horror! Segundo turno, ocupava o primeiro lugar. Podia ser campeão. Aberração, Calamidade. Tragédia.

Até que retomou o rumo certo. Melhor dizendo, o errado, o costumeiro. Voltou a perder, uma partida atrás da outra, engordando o famoso vicio. E o refrão voltou a ecoar no estádio: “Eê! Ê! Ê! Perder Pra valer! Quem quiser venha ver!” Abraços, choro incontido. Fogos de artifício, foguetes, berros, histerismo.

O pior time do mundo na manchete. Com o seu trio de atacantes inesquecível: Mudo, Zoinho e Surdo. Ovação geral do torcedor empolgado. Convicto. Eternamente.

Cyro de Mattos

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