quarta-feira, julho 11

A verdade das mentiras

Ser leitor é muito mais saboroso que ser escritor. Os livros alheios são mais de 40 milhões, cada um nascido numa cabeça diferente, cada qual com sua própria contribuição à cartografia do mundo e do ser humano. Em cada obra, existe um universo novo, exclusivo. Já a gente, enquanto escritor, bem, a gente se conhece, sabe como nossa cabeça funciona, sabe que tipo de livro produzirá. Eu, por exemplo, quando leio a primeira linha de um romance meu publicado, sei exatamente como terminará. Sou muito previsível… Daí minha preferência pela leitura. Gosto da surpresa e do deleite que outros me proporcionam e chegam prontos à minha mão. Gosto da variedade temática, do olhar diverso, do conflito de opinião.

Anne Soline
Essa paixão pelo trabalho alheio também domina o peruano Mario Vargas Llosa. Ele adora ler. Lê muito e de tudo, sobretudo os grandes romancistas. A prova disso está em seus ensaios a respeito de publicações que o influenciaram como Madame Bovary, de Flaubert. Ele admite abertamente a influência. Sem medo. Sua maior declaração de amor à literatura se encontra, porém, em seu livro A
Verdade das Mentiras, no qual examina trinta e seis de suas obras favoritas. A paixão funde-se à erudição, perspicácia e admiração com que se debruça sobre autores como Hemingway, Faulkner, Canetti, Orwell, Moravia, Malraux, Tabucchi, Lampedusa, Solzhenitsyn, Fitzgerald, Conrad e Joyce, todos comentados, comparados e criticados, demonstrando que a literatura continua bela, viva e criativa. É a arte das artes.

A Verdade das Mentiras serve, ainda, de excelente guia para o leitor se aproximar dos grandes mestres e escolher aqueles que lhe pareçam mais atraentes e, quem sabe, também se apaixonar por eles. Nessa comunhão de paixões, ao imergir no universo da boa ficção, na fantasia que nos faz refletir sobre nós mesmos e nossa condição humana, você compreenderá por que ser leitor é melhor que ser escritor. Em nossa fragilidade e finitude, quando lemos, por momentos exponenciamos nossa consciência e nos tornamos eternos. Carpe diem. A finitude é curta.

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