domingo, setembro 4

Não conversamos com o silêncio

Quando uma sociedade e seus valores ficam muito perdidos, ela ganha muita força para a autoajuda. É uma sociedade que procura o que fazer, como viver. Precisa muito de receita.

O melhor diálogo que travamos na vida é com o silêncio. Conversar com o silêncio é fascinante. Vivemos em uma sociedade em que o silêncio está interditado. As pessoas falam o tempo inteiro. Você entra no aeroporto e a tevê está ligada o tempo inteiro. No hotel, a tevê está ligada o tempo inteiro. Tem uma música tocando no elevador, tem alguém falando no celular. Tem pessoas com três celulares. É um mundo que fala o tempo inteiro. Não conversamos com o silêncio. E quando escutamos o silêncio, temos muitas respostas. Estamos ficando cada dia mais interditados do silêncio.

Tem um objeto que me preocupa muito chamado televisão. Não tenho nada contra. Às vezes, tem umas novelas boas que a gente descansa ao assistir. Mas entre um bloco e outro, existe uma coisa chamada comercial, que mostra tudo o que não temos. Você não tem esse cartão de crédito, não tem esse tênis, não fez essa viagem. Você não tem esse carro, não usa esse produto…

Certa vez, umas senhoras apareceram na minha casa, muito bem vestidas, às três horas da tarde, me pedindo para participar de abaixo-assinado que elas iriam mandar para o Roberto Marinho. O abaixo-assinado era porque a Globo estava passando programas naquele horário que não eram bons para os jovens. Eu as levei até o escritório, não tenho tevê na sala, e disse para elas: “Olha, vou dizer para a senhora que a minha televisão é maravilhosa. Ela tem um botão que quando não quero assistir, eu desligo. Tem que instalar na da senhora. É uma coisa fascinante. Se a da senhora não tem, manda instalar”.

As pessoas estão sem autonomia até para desligar uma televisão. Compram aquilo, ligam de manhã e dormem com aquilo ligado a noite inteira. É uma coisa que fala no ouvido da gente o tempo inteiro.
Bartolomeu Campos de Queirós

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