domingo, junho 7

Formação de leitores passa por binômio educação-cultura

Jornada de Passo Fundo, coordenada por Tania Rosing, foi cancelada após 34 anos

Quando o foco é educação, sentimo-nos, enquanto educadores, desafiados a desencadear um conjunto de ações, aparentemente simples, com o intuito de formar leitores, capazes de atuar com autonomia e com um apurado senso crítico nas práticas sociais. Contemporaneamente, apresentam-se cada vez mais dimensões e segmentos que devem ser dominados pelos diferentes atores sociais. Não apenas sendo preparados para refletir individualmente sobre as formas de participar em diferentes grupos com a manutenção de suas identidades, mas também sendo estimulados a compreender no coletivo o que se vê, sem deixar de identificar o que não se vê e subjaz a cada ação, a cada manifestação, a cada contexto, em distintas situações do cenário humano. Para isso, precisamos de leitores.

De nada adianta viver sem buscar insistentemente o entendimento, no contexto do binômio educação-cultura, das manifestações culturais que determinam a essência e a significação da presença humana no mundo. Faz-se necessário envolver cada um e todos na busca do sentido e da essência de suas presenças e distintas participações na sociedade, pelo viés do binômio educação-cultura em sintonia. É fundamental que as pessoas se tornem leitores.

Nesta perspectiva, ocorre a possibilidade de desenvolverem, de forma diferenciada, suas sensibilidades, com estímulo ao desenvolvimento do gosto literário. É imprescindível transformarem-se em leitores literários. E mais: cada sujeito amplia o entendimento sobre si mesmo e nas relações com os outros, passando a valorizar manifestações artístico-culturais.

Apreciar a música desde a sua dimensão clássica até a música popular, entender a singularidade da participação direta numa plateia de teatro, ampliar as relações entre literatura e cultura, enquanto frequentadores de museus e de centros culturais, enquanto apreciadores da pintura, da escultura, da dança, dos produtos audiovisuais, da fotografia em suas dimensões plurais. Todas essas possibilidades impõem a formação de leitores com o potencial de entendimento das diferentes linguagens que integram cada manifestação da arte e da cultura não a partir de ações eventuais, mas no contexto de uma movimentação cultural.

Palavras sábias do inesquecível filósofo e dramaturgo Alcione Araújo reforçam esse posicionamento: “Siamesas, educação e cultura se completam. A percepção do mundo — objetiva e subjetiva — se deve à ação simultânea — subjetiva e objetiva — da educação e da cultura".

As Jornadas Literárias de Passo Fundo, ao longo de mais de três décadas, promoveram uma movimentação cultural sustentada pelo binômio educação-cultura, acrescentando, nos últimos tempos, a dimensão da tecnologia. Entendíamos a necessidade de sustentar o processo de formação de leitores pela lógica da ciência, ao lado da preocupação com o desenvolvimento da sensibilidade, da subjetividade pela valorização, pelo entendimento e pela vivência das artes.

Estávamos e continuamos preocupados em contribuir com o desenvolvimento e o aprimoramento de crianças, jovens e adultos, propondo vivências leitoras interdisciplinares, multiculturais, multimidiais. A complexidade do mundo em que vivemos impõe ao desenvolvimento da formação escolar, da formação acadêmica uma dimensão humanista em que se vivencia Educação e Cultura. Em termos da formação literária e do gosto pelas manifestações da arte, da cultura, entende-se que estas, sem perder a sua essência, podem ser veiculadas e o que é melhor, apreciadas em diferentes mídias.

O processo de aprimoramento humano requer não apenas esforços, crença, dedicação, mas recursos financeiros. Não se promove educação-cultura-tecnologia sem dinheiro. Não é menor falar de dinheiro. Defende-se o desenvolvimento do ser humano em sua essência. Isto basta. O que está proibido é deixar de sonhar. Sonhar o possível, mas principalmente o impossível. Não desejamos acordar desse sonho o protagonista que é o ser humano em busca da perfeição pela leitura, pela leitura ampla, pela leitura expandida. Ruídos podem acordar esse sujeito.

Devemos, enquanto educadores, acalentar esse homem, essa mulher, esse jovem, essa criança para que, pelo sonho, aprimorem-se. Esta foi nossa luta nos 34 anos em que lideramos as Jornadas Literárias de Passo Fundo.

Tania Rosing (criadora e coordenadora geral das Jornadas Literárias de Passo Fundo entre 1981 e 2015)

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