quarta-feira, agosto 5

Assim começa o livro...

De ambos os lados de um pequeno promontório, pontilhado de cafés e restaurantes, havia um mar brincalhão porém digno, bem diferente do verdadeiro oceano que rugia e roncava do outro lado da bocejante baía cercada de rochas que todos chamavam - até nos mapas tinha este nome - de Dentes de Baxter. Quem fora Baxter? Uma boa pergunta, repetida sempre, e cuja resposta, enquadrada numa folha de papel habilmente envelhecido, estava pregada na parede do restaurante que ficava no ponto mais alto do morro, o que tinha a melhor, a mais proeminente e a mais atraente posição. Baxter's, esse era o nome, e lá todos afirmavam que a saleta feita de tijolos finos e junco fora a casa que Bill Baxter construíra com as próprias mãos. Viajante incansável, ele tivera a chance, como marinheiro, de topar com aquele paraíso de baía cercada por uma pequena língua de rochas. Versões anteriores dessa mesma lenda sugeriam nativos pacíficos e acolhedores. Onde foi que os Dentes entraram na história? Baxter era um explorador inveterado de praias e ilhas próximas até que, numa noite enluarada, tendo-se enfiado num barco minúsculo, feito de sobras de madeira e experiência, acabou indo a pique entre aqueles sete rochedos negros, bem diante de sua casinha, onde uma lanterna tão confiável quanto um farol dava as boas-vindas aos barcos que eram pequenos o bastante para entrar na enseada depois de transpor o arrecife.

Baxter's era agora muito bem plantada com grandes árvores que sombreavam mesas e cadeiras, e dos três lados abaixo havia o mar amigo.

Um caminho que atravessava em ziguezague os arbustos ia dar nos Jardins de Baxter, e, uma tarde, seis pessoas subiam o suave aclive, quatro adultos e duas meninas bem pequenas, cujos gritos de prazer faziam eco ao barulho das gaivotas.

Dois belos homens vinham na frente, não jovens, mas apenas o despeito poderia dizer que eram de meia idade. Um deles mancava. Em seguida duas mulheres tão bonitas quanto eles, de uns sessenta anos - mas ninguém nem sonharia em chamá-las de velhas. Numa mesa evidentemente conhecida deixaram sacolas, cangas e brinquedos, gente serena e radiante, como são os que sabem usar o sol. Arrumaram-se todos, as pernas morenas e sedosas das mulheres terminando em sandálias negligentes, mãos competentes temporariamente em descanso. Mulheres de um lado, homens do outro, as duas meninas impacientes - seis belas cabeças? Com certeza eram parentes? Aquelas tinham de ser as mães dos homens; e eles só podiam ser os filhos. As meninas, clamando pela praia, no fim de uma trilha de pedra, foram avisadas pelas avós, e depois pelos pais, que deveriam se comportar e brincar sem alvoroço. Elas sentaram e começaram a desenhar figuras na areia com a ajuda dos dedos e de gravetos. Meninas muito bonitas - e assim tinham de ser, com progenitores tão belos.

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