sexta-feira, fevereiro 2

Tempo de Carnaval

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Tempo de carnaval. O banco, o escritório, a indústria e o comércio eram substituídos por uma máquina de fazer alegria. O corso passava pela Avenida Sete numa maravilhosa ventura em torno do tempo perdido na história. Improvisava figurações diversas, tinha feições de cores e luxo, uma ópera no desfile do carro alegórico lembrava a Grécia antiga, Veneza. O êxtase e o riso invadiam a Rua Chile. Havia a guitarra elétrica na fobica, puxava atrás pequena multidão, formada por gente do povo nos intensos prazeres, vibrações de corpo que insinuavam uma dança frenética.

O bar Cacique, antes Bob’s, vizinho ao Cine Guarani e ao cabaré Tabaris, era parada obrigatória do folião para o chope.

O moço do interior impregnava-se no carnaval daquela forma de viver, que não queria saber do mundo rotineiro. Fantasiava-se com a onda humana para cantar e dançar na avenida. Blocos antigos, afoxés, batucadas. Na tanga do índio, na mortalha suada da moça, no amor da colombina. Era embalado pelos ventos da utopia. A vida suavizada pela passagem mística do bloco Filhos de Ghandy.

Tempo que transformava o branco no preto, o pobre no rico, o sacro no leigo, de mãos dadas passavam o padre e a freira. Não havia vencedores e vencidos, viver era igual a se divertir.

Ele, todo alegre, como não devia deixar de ser, pelo salão com a espada de pau. O olho tapado na cara de mau. E a cigana que fingia ser definitivo o amor passageiro no carnaval. O chão cheio de confete, serpentina colorindo o ar, a lança que perfumava a melindrosa em cada volta. Aqueles risos com mais de mil palhaços no salão, pierrô fazendo suas juras, arlequim chorando pelo amor da colombina no meio da multidão.

Vestido de marujo, viajando pelo mundo de uma só cor, a da euforia. Na quarta-feira de cinzas, quando o coral silenciava, sem o apito da alegria, descia da nau, que chegava ao porto, situado no jardim da Piedade. Chegava de madrugada, polvilhada de fadiga pela cauda, puxando a manhã fresca e pura.

Foi nessa viagem gasta na avenida que conheci a festa da alegria. Aquele grande alvoroço tive nos dias que eram apenas um cenário de euforia. Lindo marujo, de lá para cá, percebeste que sobre outra onda foi rolar o mundo. Na orla nunca soubeste por que tudo haveria de acontecer sem agitação um dia, desligado do corpo da juventude, recolhido nos braços de um idoso. E, assim, sem cores e sons, fosse levado, em silêncio, nas marés da nostalgia.

Cyro de Mattos

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