quarta-feira, agosto 1

A casa rouca

Ficara o galo, sobrevivência da ruína.

Rouco o seu canto. Canto que não parecia mais de galo, senão a própria voz da casa abandonada. Casa rachada ao sol, aluindo-se ao vento de chuva.

Não mais agora figuras humanas entrando; apenas lagartixas e morcegos para recepção às sombras.

Casa rouca submersa no matagal, teu galo ficou. E seu canto perdeu o timbre de sol, já não inaugura os dias. E se fez adequado aos estragos do reboco, à podridão das esquadrias – última secreção de pareces gemidas.

Galo rouco. Casa rouca.
Aníbal Machado

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