sábado, agosto 4

Não deixem morrer as palavras

Victoria Ying
- O Senhor já reparou bem num dicionário? Num dicionário qualquer... Tanto faz... Já reparou? Pois a mim faz-me lembrar sabe o quê?

Um jazigo de família, ou melhor, um jazigo da nação. Uma espécie de mausoléu de papel, onde gerações empilharam séculos e séculos de palavras. Algumas já definitivamente mortas, cobertas de bichos, outras quase a morrer... E muitas, apenas adormecidas, à espera de um toque de dedos para regressarem à vida diária... onde utilizamos ao todo quantas palavras vivas - diga-me lá quantas? Quinhentas? Mil? Nem tantas talvez!

Garanto-lhe que (...) quando ouço de manhã até à noite os mesmos termos... as eternas expressões... os substantivos inevitáveis... os adjetivos fatais... e o verbo ser, o verbo haver, e o verbo fazer... sabe o que me apetece? (...) Gritar aos homens: Não deixem morrer as palavras!

José Gomes Ferreira

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