segunda-feira, abril 20

Máscaras

Na feira de domingo, a garota improvisa uma bancada entre as barracas e, sob sol forte, expõe sua mercadoria: máscaras de tecido, que ela mesma costurou e vende com facilidade. Bem próximo, um músico toca sax e deixa no chão o chapéu, para recolher gorjetas. Ao meio-dia, fato inusitado, ainda há frango assado à venda na padaria. Assim anda nossa vida, com dias tão iguais e pragmáticos que fins de semana e feriados perderam o sabor especial.


Algumas coisas, porém, a pandemia não conseguiu mudar. Nosso humor gaiato, por exemplo. A estátua de Pelé, que tem praça exclusiva, amanheceu usando máscara de proteção. Nas redes sociais, circulou o vídeo de uma moça que nos propõe diversão. Ela usa uma máscara com duas dobras, pintada com um largo sorriso feminino. Inesperadamente, ao esticar o tecido, o sorriso vira uma gargalhada, fazendo quem a veste e quem assiste rirem também.

Outra coisa que nos distingue é o oportunismo. Um grande assalto voltou a acontecer no Aeroporto Internacional de Guarulhos, confirmando que a segurança no setor de cargas de lá deixa a desejar. Desta vez, o alvo foram produtos de ocasião: cerca de 15 mil testes de diagnóstico da Covid-19, óculos de proteção, máscaras, luvas, álcool em gel. Estou esperando uma compra de 100 máscaras descartáveis importadas e suspeito que elas façam parte do carregamento levado pelos ladrões…

E por falar em oportunistas, o maior hospital da cidade, a Santa Casa de Misericórdia de Santos, colocou à venda testes rápidos para detectar o vírus em sistema drive thru (o interessado não precisa sair do carro para colher amostras), a R$250,00 cada. Detalhe: o teste não oferece exatidão nos resultados. Ou seja, a contaminação pode não ser detectada e o testado espalhar um pouco mais a doença por onde passar, mesmo que seu diagnóstico seja negativo. Só no primeiro dia, mais de 200 consumidores se apresentaram. A expectativa do hospital é arrecadar R$ 5 milhões, para equilibrar as finanças.

Falando nisso, os bancos, dizendo-se preocupados com a saúde dos clientes, fecharam várias agências. Antes da pandemia, corria o boato que a maioria deles pretendia eliminar o atendimento pessoal e manter apenas os caixas eletrônicos e serviços on line. Já estão ensaiando, e ninguém pode afirmar que voltarão a funcionar como antes… Pesadelo para os funcionários e correntistas.

Enquanto escrevo, ouço vários espirros pela vizinhança. Até agora, não recebi notícias de moradores infectados, mas penso nas maçanetas, corrimãos, caixa do correio, interfone e outros tantos riscos que compartilhamos. Acho que vou adquirir aquela máscara da risada, só pra não chorar.

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