quarta-feira, abril 29

Outra carta na garrafa

Hei, você!

Não sei quanto tempo faz, mas faz bastante tempo que meu computador abre com imagens lindas. São fotos realmente extraordinárias de praias de mar, grutas, faróis, lagos com montanhas ao fundo, pequenos vilarejos nas margens de rios… Umas vezes ficam por dias se repetindo, outras trocam a cada ligar e desligar. Tem um comando a pedir opinião sobre a foto que nunca entrei – pareço paranoico ao pensar que estes botões querem saber de mim mais do que confessam?

Já são meses olhando as imagens. Anos, talvez. Sou distraído com essas coisas, sabe? Porém, quem sabe motivado pelo isolamento social, dei-me conta que não há pessoas nas fotos. Tem céu, tem água, tem floresta. Tem muita areia e algumas rochas. Intervenções do homem, tem – ou vistas ao longe, ou completamente isoladas. Quem fotografou não aparece, bem como está atrás das lentes supostas companhias. Existirão? A lógica diz que sim, mas a composição existe para fazê-los sumirem.

Onde estão todos?

Tivesse eu acesso aos responsáveis por este carinho ofertado na abertura do computador, uma verdadeira galeria de arte franqueada para tornar nosso cotidiano mais agradável, faria um pedido: altere completamente a série. Hoje, depois do dar-me-conta, olhar as paisagens dói. É a dor da solidão, do pesar por tantas mortes, do imaginar futuros distópicos onde a humanidade seria pouco mais do que marcas deixadas na paisagem. Troque por festas populares, praças lotadas, parques de diversão. Estádios esportivos, encontros religiosos, crianças brincando. Casais apaixonados, idosos sorrindo, animais de estimação. Que tal?

A intenção pode parecer boba. Uma iniciativa digna de Poliana virtual. Sei lá… Ainda assim, creio ser capaz de atenuar tantos maus pensamentos que abalam o sono, abatem a esperança, contaminam feito um vírus anímico. Caso você tenha algum canal de interlocução com o Bill Gates, leve a ele meu apelo.

Desta ilha em que me encontro, com carinho.

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