segunda-feira, abril 1

Um tantinho de Mario Quintana

Certa manhã, a secretária do Escritório Quintana & Barros entrou na sala em que seu Mario e seu Manoel escreviam um texto sobre a primavera e encantou-se com os passarinhos que tinham aparecido ali e com os que continuavam a surgir da caneta de cada um deles.

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O que Mario Quintana tinha não era simplesmente humor. Era algo mais sofisticado, algo que só Oscar Wilde, Voltaire, Pitigrilli, Swift, Sterne, nosso Machado e mais meia dúzia de homens chegaram a conhecer. Mario Quintana tinha humour.

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O sol vinha brincar com Mario Quintana. Passeava-lhe nos lábios, fazia cócegas, provocava sorrisos. Mario Quintana gostava. Os dois se entendiam e via-se facilmente que eram velhos amigos.

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Em Mario Quintana a tristeza era um acidente, como um desses primos que nos apoquentam a vida sempre que aparecem e que no final das contas descobrimos que nem são primos nem nunca foram. Mario Quintana era aparentado com a alegria.

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O tempo de Mario Quintana era hoje, e sua estação – com as mudanças levíssimas que de vez em quando ele fazia para conseguir mais sol e mais flores – sempre foi a primavera.

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Se há no céu um departamento encarregado de montar e desmontar arcos-íris, Mario Quintana certamente cuida da primeira dessas tarefas.

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A poesia era fiel a Mario Quintana, e ele retribuía, se bem que ela o recriminasse às vezes por trocar certos olhares com a prosa, além de piscadelas marotas.

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Para Mario Quintana, fazer poesia era tão natural quanto respirar, porém muito mais prazeroso.

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Mario Quintana tinha com as palavras uma dessas relações que o tempo sempre acaba transformando de amizade em amor.

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Quintana! Quintana! Quintana! O mais gaúcho dos triságios.

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