terça-feira, dezembro 2

O bibliotecário de García Márquez

Iván Granados, na FIL de Guadalajara
“Ele me disse: Aqui está a biblioteca”. E Iván Granados passou a reorganizar os livros de Gabriel García Márquez em sua casa na Cidade do México. Começou em 2006, ou em 2007, não se lembra da data exata. Granados, de 42 anos, lamenta não recordar com mais precisão coisas que deveria se lembrar automaticamente. Quando fala de outros assuntos de seu período de bibliotecário pessoal do ganhador do Nobel, às vezes fica meio parado, interrompe sua explicação; sentado em um banco de bar, olha calado para a entrada de seu hotel em Guadalajara, e através de seus óculos grossos se vê os piscas elétricos de uma árvore de Natal.

“Organizar bibliotecas particulares é conviver com gostos profundos, caprichos, manias, partes da personalidade com as quais ninguém convive: os gostos raros, os culposos, inclusive os vazios estão em uma biblioteca”. Granados viajou para a FIL (Feira Internacional do Livro) de Guadalajara para participar da homenagem a García Márquez. Trabalhou em sua biblioteca até a morte do escritor, em abril, e continua indo de vez em quando organizá-la. “Mas agora já não sou o bibliotecário de García Márquez, porque morreu. Ou talvez, porque morreu, sou para sempre o bibliotecário de García Márquez”.

Ele conheceu o escritor quando era pequeno, na Cidade do México, porque sua mãe era amiga dele. Disse que era um senhor com “um carisma muito chamativo”. Recorda uma tarde dos anos 1980, muito antes de ser seu bibliotecário, em que chegou animado dizendo que a sonda Voyager havia passado perto de Netuno e que estava mandando os primeiros sinais do que estava encontrando. Naquela época, Granados, que não era um menino voltado para os livros, começou a ler seus contos. Gostou muito de O Verão Feliz da Senhora Forbes. Vivia no México, mas passou uma época longa na Colômbia. 

Quando voltou à Cidade do México nos anos 2000, já transformado em leitor de verdade e com estudos em Literatura, seus amigos-gênios colombianos continuavam lá. Um deles era Álvaro Mutis.

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