quarta-feira, fevereiro 22

Alto Verão

As nevascas no Hemisfério Norte viraram notícia outra vez. Têm sido terríveis. E argumento para os que defendem ou desprezam a mudança climática global. Para uns, é apenas outro sinal da catástrofe, agora se manifestando com o frio; para outros, uma prova de que o clima continua o mesmo de sempre, às vezes mais seco, às vezes mais úmido. Discussões à parte, olho para nosso calorzinho, essa delícia que desfrutamos no verão, no outono, no inverno e na primavera, uma vez mais bendigo os trópicos. O calor aqui está sempre presente, mesmo quando chove.

Entre Lápis e Pincéis: Gobugi:
Comparemos nosso clima com o do Canadá, por exemplo. Lá o frio impera, e o inverno assusta. Em Calgary, certa vez peguei 32 graus abaixo de zero. Isso mesmo, 32 negativos. Sonhei com o Brasil naquela hora, receoso de virar picolé e, qual nos desenhos animados, trincar feito vidro. A cada quarteirão que andava, entrava depressa numa loja para me aquecer, saía, corria pela rua até outra loja salvadora, quentinha. No entanto, vi uma japonesa desfilar de minissaia. Que mágica fazia ela se, num freezer desses, até os carros precisam de aquecimento? Nas vagas de estacionamento, há tomadas elétricas para manter líquida a água do motor e possibilitar a partida, do contrário mesmo a gasolina corre o risco de congelar. Até as cachoeiras se petrificam e lembram lágrimas de vela pairando no espaço.

Perto de Calgary, em Banff, após uma semana de nevascas em abril, a temperatura de repente subiu para 20 graus acima de zero, e a primavera chegou de um dia para o outro. Em quarenta e oito horas, o lago sobre o qual eu caminhara descongelou e virou uma coleção de pequenos icebergs. Ao explorar a mata ao redor, tive de fugir em disparada, pois um urso recém-saído da hibernação parecia me confundir com comida. Como as pessoas conseguem viver num lugar desses?

No entanto, alguns canadenses me fizeram a pergunta inversa: como suportamos o calor brasileiro? Alegaram que derreteriam nos trópicos.

Examino a temperatura de nosso alto verão, sinto o conforto de quem não precisa de agasalho, sequer de se refugiar em lojas, concluo que o paraíso, se não fica aqui, montou uma filial no Brasil. Nosso calor tem a medida certa. Mesmo que alguns canadenses não o apreciem, mata de inveja a maioria deles. Como adorariam viver aqui…

Luís Giffoni

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