sábado, abril 14

Assim começa o livro...

— Papai, estou cansada — disse com agitação a garotinha de calça vermelha e blusa verde. — A gente não pode parar?

— Ainda não, querida.

Ele era um homem grande de ombros largos, vestindo um paletó de veludo gasto e puído e uma calça marrom de sarja. Ele e a garotinha estavam de mãos dadas, andando pela Terceira Avenida em Nova York. Caminhavam rápido, quase correndo. Ele olhou para trás, e o carro verde ainda estava lá, seguindo lentamente junto ao meio-fio.

— Por favor, papai. Por favor.

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Ele olhou para ela e viu como seu rosto estava pálido. Havia círculos escuros embaixo dos olhos da menina. Ele a pegou no colo e a apoiou na dobra do braço, mas não sabia por quanto tempo conseguiria seguir assim. Também estava cansado, e Charlie não era mais tão leve.

Eram cinco e meia da tarde, e a Terceira Avenida estava lotada. Os dois agora estavam atravessando ruas de número sessenta e tantos, e essas ruas transversais eram mais escuras e menos movimentadas… Mas isso era do que ele menos tinha medo. Os dois esbarraram em uma senhora empurrando um carrinho cheio de compras.

— Olhe por onde anda, hein! — disse ela, e foi em frente, engolida pela multidão apressada.

Seu braço estava ficando cansado, e ele trocou Charlie para o outro. Lançou mais um olhar para trás, e o carro verde continuava lá, ainda acompanhando, meio quarteirão para trás. Havia dois homens no banco da frente, e parecia haver um terceiro no de trás.

O que eu faço agora?

Não tinha a resposta para isso. Estava cansado, com medo e com dificuldade de pensar. Foi pego em um momento ruim, e os filhos da mãe provavelmente sabiam. Só queria se sentar no meio-fio sujo e chorar toda a frustração e medo que sentia. Mas isso não era solução. Ele era um adulto. Teria que pensar pelos dois.

O que a gente faz agora?

O dinheiro tinha acabado. Esse talvez fosse o maior problema, além dos homens no carro verde. Não dava para fazer nada sem dinheiro em Nova York. As pessoas sem dinheiro desapareciam em Nova York; caíam nas calçadas e nunca mais eram vistas.

Ele olhou para trás e viu que o carro estava ligeiramente mais próximo. O suor começou a escorrer pelas costas e pelos braços um pouco mais rápido. Se os homens soubessem tanto quanto ele desconfiava que sabiam, se soubessem como ele àquela altura tinha pouco impulso, talvez tentassem pegá-lo ali e agora. E sem se importar com a multidão. Em Nova York, se não é com você que algo está acontecendo, uma cegueira esquisita se desenvolve. Eles andam me monitorando?, perguntou-se Andy com desespero. Se estivessem, eles sabiam, e tudo tinha acabado, exceto os gritos. Se o estavam monitorando, eles conheciam o padrão. Depois que Andy conseguia um pouco de dinheiro, as coisas estranhas paravam de acontecer por um tempo. As coisas nas quais eles estavam interessados

Continue andando.

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