sábado, janeiro 9

Vacina literária

A pandemia tem seu lado B, e a letra é de bom. Mais uma vez, a arte superou o desamparo e, ao longo desses meses todos de confinamento, preencheu o vazio. Íntimos da solidão, escritores recriaram o caos, produzindo livros. Reviraram as gavetas da memória, tiraram o pó da estante dos sentidos, remexeram as entranhas da imaginação, fazendo nascer novas obras, com os mais diferentes formatos e temas, para os mais variados leitores.

Espelhos portáteis, alguns livros abordam nosso momento, inquietações e carências, a falta da mais completa tradução. E acertam o passo com quem os lê, propondo reflexões sobre um tempo que é todo novo e chegou sem bula. Outros oferecem o escapismo da fantasia, acariciam o olhar com o belo, difundem utopias.



Estão à venda, mas são quase frutos proibidos entre livrarias às moscas e bolsos vazios, mil preocupações de ordem prática e empregos por um fio. Sobreviver brilha em neon em todas as mentes. A internet nos alenta, oferecendo atalhos aos que têm acesso às redes. Com ela irrigamos, com textos, sons e imagens, o deserto da mente que precisou desaprender a rotina e da alma, tão precisada de germinar emoções positivas.

Até quando vai durar este estado de exceção, ninguém pode determinar. Cigarras cantam enlouquecidas, como em qualquer verão; crianças brincam ruidosamente, como em todas as férias; gatos dormem ao sol, cães latem atrás dos portões. O medo só contaminou os adultos, tirando-se os covidiotas. Precisam de livros, para retomar o fôlego, superar o desencanto e enfrentar mais uma temporada de incertezas. Que sobrevivam os escritores e demais artistas!
Madô Martins

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