segunda-feira, novembro 14

Os crimes perfeitos

Ao contrário das quadrinhas, geralmente obras de amadores ou principiantes, os sonetos costumam ser friamente premeditados. Alguns chegam a ser crimes perfeitos.


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Fernando Pessoa foi mais de cem e Mário de Andrade foi três centenas. Eu sempre fui eu, apenas. Sou nulo, nada, ninguém.

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Que grande poeta eu seria se só vontade bastasse, se não faltasse a poesia.

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Se buscas um homem sério, um cidadão caridoso e um político virtuoso, procura-os no cemitério.

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Para os leitores de poesia, principalmente os não muito habituais, a imagem ideal de poeta é ainda a de um jovem de cabelos longuíssimos e cacheados. Se virem pela primeira vez uma foto de Drummond, dirão que se trata de um impostor.

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Filósofos são meninos que, tornando-se adultos, não perderam o hábito de perguntar.

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Quando renegou o lirismo para se tornar um poeta social, sua primeira decisão foi providenciar um cartão de visita.

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Houve tempo em que as rimas foram, para a poesia, o que o destino era para um romance: impositivas, arbitrárias, fatais.

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Viver não é passear por um jardim, nem é colher laranjas num pomar. Viver não é cantar nem assobiar, viver jamais foi nem será assim. Viver não é gozar. Viver é, sim, lutar, e lutar mais, perseverar, e perder, perder mais, agonizar, é sofrer desde o início até o fim.

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Em favor dos haicais, de sua modéstia e simplicidade, de seu horror à retumbância, diga-se que em nenhum deles se encontra sequer um ponto de exclamação.

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O poeta romântico e o poeta concreto não foram autodidatas. O romântico cursou humanas; o concreto, exatas.
Raul Drewnick

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