domingo, outubro 15

A volta do guerreiro

Os homens que voltaram da guerra traziam feridas e pesadelos. Encontraram suas amadas indiferentes. Passara tanto tempo que algumas nem se lembravam deles, e muitas tinham estabelecido novos amores.

Uma, entretanto, permaneceu lembrada e fiel, e atirou-se com fúria passional aos braços do ex-guerreiro. Ele a repeliu, dizendo:

― Não quero mais ver a guerra diante de mim.

― Eu não sou a guerra, sou o amor, querido ― respondeu-lhe a mulher, assustada.

― Você é a imagem da guerra, você me agarrou como o inimigo na luta corpo a corpo, eu não quero saber de você.

― Então farei carícias lentas e suaves.

― O inimigo também passa a mão de leve pelo corpo do soldado caído, para tirar o que houver no uniforme.

― Ficarei quieta, não farei nada.

― Não fazer nada é a atitude mais suspeita e mais perigosa do inimigo, que nos observa para nos atacar à traição.

Separaram-se para sempre.
Carlos Drummond de Andrade, "Contos Plausíveis"

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