Gasta, vencida, a senhora arrastava uns sapatos pretos e inestéticos que se vêem à venda nas farmácias e que destoam naquele ambiente asséptico.
Os seus olhos escuros desbotavam nuns óculos enormes, o cabelo era uma armação a cair de cinzento.
A vida da dona Isaurinha era um trânsito entre a casa do ferroviário da Beira Alta a quem chamava filho- o Virgílio, um bigode militar e uma mulher que se apoderara dele para todo o sempre-e as casas de quem a quisesse acolher. Em casa dos meus pais, Isaurinha ia ficando longas temporadas, quer na estação das chuvas, quer nos meses de calor. Dormia num sofá-cama castanho, da mesma cor da sua mala de fivelas douradas, uma cor que me parecia demasiado antiga e que hoje já nem isso é.
Os corpos espatifaram a napa. Os de hoje e os de antes.
Amílcar Correia, "A balada do Níger e outras histórias de África"

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