Existem dois tipos de listas: as necessárias e as inúteis, sendo que em muitos casos, dialeticamente, as necessárias tornam-se inúteis e as inúteis, necessárias
Leitura a dois, Deborah Dewit
Não sei quando começou a necessidade de fazer
listas, mas posso imaginar nosso antepassado mais remoto riscando na parede da
caverna, à lua de uma tocha, signos que indicavam quanto de alimento havia sido
estocado para o inverno que se aproximava ou, como somos competitivos, a
relação entre nomes de integrantes da tribo e o número de caças abatidas por
cada um deles.
Se formos propor uma hermenêutica acerca do
tema, talvez possamos afirmar que existem dois tipos de listas: as necessárias
e as inúteis, sendo que em muitos casos, dialeticamente, as necessárias
tornam-se inúteis e as inúteis, necessárias. Tomemos dois exemplos. Todo mês,
enumero as coisas que faltam na despensa de minha casa antes de me dirigir ao
supermercado: essa lista arrolo na categoria das necessárias. Por outro lado,
há pessoas que anotam suas metas para o ano que se inicia, começar a fazer
ginástica, parar de fumar, cortar em definitivo o açúcar, ser mais solidário,
menos intolerante: essa, elenco na categoria das inúteis...
Feitas as
compras, a lista do supermercado, necessária, torna-se então inútil. A lista
contendo nossos desejos de sermos melhores para nós mesmos e para os outros,
embora inútil, pois dificilmente as cumprimos, convertem-se em necessárias,
porque estabelecem um vínculo com o futuro, e projetarmo-nos é uma forma de
vencer a morte.
Tudo isso, para justificar o que se segue.
Ninguém me perguntou, mas resolvi organizar uma lista dos melhores romances que
li em minha vida – escolhi o número vinte, não por motivos místicos, mas porque
talvez, pela amplitude, alinhave, mais que preferências intelectuais, uma
história afetiva das minhas leituras. Enquadro-a na categoria das listas
inúteis, mas quem sabe, se consultada, municie discussões, já que toda escolha
é subjetiva e aleatória, ou, na melhor das hipóteses, suscite curiosidade a
respeito de um título ou de um autor. Ocorresse isso, me daria por satisfeito.
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