quinta-feira, março 5

Premiada novela policial sobre Cervantes

Com mais um romance de cervantino, Juan Eslava Galán, autor de “O comedido fidalgo” ganhou o Prêmio Primavera, de 100 mil euros. Em "Mistério na casa de Cervantes", Galán caminha entre o romance histórico e o romance policial, aproveitando-se de um evento curioso acontecido com com o próprio Cervantes quando ele residia em Valladolid: o surgimento de um cadáver na porta da casa, onde residia com suas irmãs, o quer resultou na prisão da família.

Assim começa o livro

Num meio-dia calorento do verão, um viajante solitário trilhava o caminho de Armona e Sevilha num triste mulo de aluguel. Dom Alonso de Quesada, que assem se chamava o cavalheiro, tinha boa aparência, era seco de carnes e não malapanhado. A barba, grilsalha e bem aparecada; o cabelo, acinzentado e ralo; a testa, ampla; o nariz, aquilo; a boca, final; as orelhas, afiladas; todos eles sinais de perspicácia. Seu olhar era vivo, marca de inteligência, e um pouco vidrado, o que é indício certo de natureza melancólica. Além de viajar num mulo alugado e sem pajem, saltava aos olhos que não tinha dinheiro sobrando, com seu traje surrado e a fatigada mala de couro de ovelha, que bastava para guardar sua parca bagagem.

Naquela época os caminhantes soltiários costumavam amenizar a jornada cantando romanças – ainda mais se fossem poetas e autores de comédias, como nosso viajante -, mas naquele percurso dom Alonso seguia silenciosos e cabisvaio, como quem, esquadrinhado os acontecimentos de sua vida, aos poucos dá-se conta de que é um infeliz e de que mais lhe valeria jogar uma corda em uma figueira e nela se enforcar para escapa de vez das penúrias e misérias do mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário