domingo, setembro 17

Assim começa o livro...

Uma viagem de carro de uma hora, boa parte dela na subi‑ da, no meio da chuva e da fumaça. Eu mantinha minha janela abaixada alguns centímetros, na esperança de sentir uma fragrância, um olor de arbustos aromáticos. Nosso motorista diminuía a velocidade nos piores trechos da estrada e nas curvas mais fechadas, e sempre que vinha um carro em sentido contrário em meio à neblina. Em alguns trechos a vegetação à beira‑estrada rareava e víamos um panorama de selva pura, vales inteiros de mata, espalhada entre os morros. 

Jill lia seu livro sobre os Rockefeller. Quando se concentrava, ela tornava‑se inacessível, como se estivesse completamente estupefata, e durante toda a viagem só a vi levantar os olhos da página uma vez, para ver de relance umas crianças brincando num campo.

O trânsito era escasso nos dois sentidos. Os carros que vinham em nossa direção apareciam de repente, pequenos desenhos animados em cores, desengonçados, cambaleando, e Rupert, nosso motorista, tinha que manobrar depressa na chuva torrencial para 10 evitar colisões, contornar as valas profundas na pista, esquivar‑se da selva que invadia a estrada. Pelo visto, pressupunha‑se que to‑ das as manobras evasivas tinham de ser feitas pelo nosso veículo, o táxi.

A estrada ficou plana. De vez em quando surgia alguém no meio das árvores, olhando para nós. A fumaça descia do alto da serra. O carro subiu mais um trecho, curto, e então chegou ao aeroporto, uma série de prédios pequenos e uma pista de pouso. Parou de chover. Paguei Rupert e carregamos a bagagem para o terminal. Então o vimos lá fora com outros homens de camisa esporte, conversando na luminosidade subitamente ofuscante.

O terminal estava cheio de gente, malas e caixas. Jill ficou sentada em sua mala, lendo, com nossas sacolas e bagagens de mão à sua volta. Fui me acotovelando até chegar ao balcão e fiquei sabendo que estávamos na lista de espera, números cinco e seis. Isso fez com que uma expressão pensativa surgisse em meu rosto. Eu disse ao homem que havíamos feito a confirmação em São Vicente. Ele retrucou que era necessário reconfirmar setenta e duas horas antes do voo. Expliquei que tínhamos feito um passeio de barco; setenta e duas horas antes, estávamos no arquipélago de Tobago Cays — onde não há gente, nem prédios, nem telefones. Ele disse que a regra era reconfirmar. Mostrou‑me onze nomes num pedaço de papel. Uma prova material. Éramos os números cinco e seis.

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