segunda-feira, setembro 25

O som do vento

pintoras:
“Helene Schjerfbeck (Finnish, 1862 - 1946): Girl Reading (Seated Girl) (1904) (via Finnish National Gallery)
”
Helene Schjerfbeck (1862 - 1946)
Escuta que é breve. Um sussurro que ensurdece. E apaga. No domingo, andei por uma rua arborizada e senti o toque aquecido. Ergui meu rosto e senti uma plenitude. Plenitudes são ligeiras e se esvaem como beija-flor. Por isso, é preciso aproveitar cada oportunidade em que uma vem lhe bicar. Pode ser a bebida que lhe fortalecerá durante o dia. Pode ser o instante em que aquela vida bonita e justa que tanto sonha acontece representada no calor em sua face. Pode ser quando uma amizade se renova e nos sentimos abraçados por toda a natureza. É a eternidade no grão de areia.

Eu ainda não sei o que fazer. Mas tenho feito mesmo assim. Porque há tanto a ser feito que nos engasgamos. As cobranças tamanhas nossas expectativas. É fácil desesperar quando sente a brisa da mortalidade na nuca. E não for uma sentença, mas uma oportunidade? O momento de um despertar bruto, que prenuncia o beijo? Quando estamos numa cama desconhecida. Ao lado, está quem lhe deu abrigo e um gin. Você agradece porque cada cafuné é uma das benções da vida. Nem sempre somos amados e a conjuntura cospe ácido quando oportuno. Mas temos esses interlúdios de lirismo. O mas que é Mais.

A beleza vem e vai. Se mantiver os ouvidos atentas, você a pega. Ela é carregada pelo vento e lhe atinge no momento mais preciso e inesperado. Logo, não seja arrogante. Abaixa o escudo e escuta o som do vento que este lhe carregará para a nova etapa. Aquela em que tudo se renova.

Daniel Russell Ribas

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