sábado, junho 25

A erva-mate

A lua morria de vontade de pisar a terra. Queria provar as frutas e banhar-se em algum rio.


Graças às nuvens, pôde descer. Do pôr do sol ao amanhecer, as nuvens cobriram o céu para que ninguém percebesse que faltava a lua.

Foi uma maravilha a noite na terra. A lua passeou pela selva do alto Paraná, conheceu misteriosos aromas e sabores e nadou longamente no rio. Um velho lavrador salvou-a duas vezes. Quando o jaguar ia cravar seus dentes no pescoço da lua, o velho degolou a fera com seu facão; e quando a lua teve fome, levou-a para a sua casa. “Te oferecemos nossa pobreza”, disse a mulher do lavrador, e deu-lhe umas broas de milho.

Na noite seguinte, lá do céu, a lua apareceu na casa de seus amigos. O velho lavrador tinha construído sua choça em uma clareira na selva, muito longe das aldeias. Ali vivia, como em um exílio, com sua mulher e sua filha.

A lua descobriu que naquela casa não havia nada para comer. Para ela tinham sido as últimas broas de milho. Então iluminou o lugar com a melhor de suas luzes e pediu às nuvens que deixassem cair, ao redor da choça, uma garoa muito especial.

Ao amanhecer, nessa terra tinham brotado umas árvores desconhecidas. Entre o verde-escuro das folhas, apareciam flores brancas.

Jamais morreu a filha do velho lavrador. Ela é dona da erva-mate e anda pelo mundo oferecendo-a aos demais. A erva-mate desperta os adormecidos, corrige os preguiçosos e faz irmãs as gentes que não se conhecem.
Eduardo Galeano, "Os Nascimentos"

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