quarta-feira, março 20

O útil do inútil

Sabe esses livros grandes, grossos, coloridos, de papel de luxo com fotos de museus, aqueles, sabe, imóveis e empilhados nas salas de visitas? Ninguém tira da pilha para folhear, e se tirar a dona da casa se contorce, incomodada, tremelicada pela quebra da harmonia sepulcral; tanta proteção e isolamento que as folhas grudam umas nas outras; sua única vantagem constatada está na imunidade às traças. Sabe esses livros, claro que sim, você tropeça neles irritado porque, ainda que perfeitos, a norma vigente doméstica os interdita como apoio para os pés durante o futebol ou para ali deixar em repouso o copo de uísque e a latinha de cerveja. Esses livros, sabe, têm utilidade cultural fundamental, que um dia aparece: nivelar mesas e armários capengas. 

Rogério Distéfano

Nenhum comentário:

Postar um comentário