sexta-feira, novembro 27

O menino que emprestava livros

Guilherme Roberto, fundador da Livreteria / VICTOR SOARES
A aposentada Juraci Nascimento era famosa em sua comunidade, o Morro do Zinco, uma favela do Complexo de São Carlos, no Rio de Janeiro. A senhora de 80 anos deixava as portas de seu sobrado sempre abertas, onde frequentemente organizava festas temáticas, como as de Natal, para cerca de 150 crianças em seu quintal. "Ela tinha uma lista de todas as crianças do Morro, com as suas medidas de roupa e de calçado. Com a ajuda de entidades parceiras da comunidade, distribuía um kit para a criançada toda no final do ano. Frequentei muito essas festas quando era menino. Dona Juraci me inspirou e me ajudou muito a ser o que sou", conta Guilherme Vinícius Roberto, que hoje tem 30 anos e uma empresa social, fundada em sua homenagem. Faz um ano que ela morreu, então não chegou a conhecer o empreendimento que carrega o seu nome, a Livreteria Popular Juraci Nascimento. Mas, com certeza, ficaria orgulhosa. Assim como ela, a Livreteria tem como objetivo contribuir para melhorar a vida dos moradores da comunidade. E não cobra nada em troca. "Levo a literatura para as crianças do Morro, para que nutram o gosto pela leitura desde cedo. Quero consolidar um espaço na comunidade voltado para a cultura, para a arte e para a esperança", conta.

Nos fins de semana, Roberto e sua equipe, formada por quatro jovens de 16 a 18 anos, sobem o Morro com um triciclo customizado, que carrega um armário de compensado cheio de livros. As portas se abrem em uma rua, escolhida por eles durante a semana, e as crianças logo aparecem para o início das atividades. "Contamos histórias e emprestamos livros. Se demoramos para voltar para uma rua, somos cobrados pelas crianças. Isso é muito gratificante para nós", afirma Roberto.

A principal fonte de renda da Livreteria é o bolso do jovem empreendedor, formado em comunicação social, que trabalha de madrugada em uma produtora de clipping. No ano passado, o projeto chegou a receber 10 mil reais para sair do papel, da Agência Redes para a Juventude, um projeto de capacitação e inclusão de jovens apoiado pela prefeitura do Rio de Janeiro. Com esse capital inicial, a literatura itinerante ganhou vida no Morro. Em apenas um ano de existência, conta com 600 títulos, nacionais e internacionais, todos doados por entidades parceiras ou pelos próprios moradores da comunidade
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