quinta-feira, agosto 3

Tristezas e alguma inadvertida alegria

La noche es larga… la pequeña hada necesita un buen café para terminar su libro. Buenas noches (ilustración de Varya Cheplanova)
Varya Cheplanova
Não sou um desses tristes oportunistas, de ocasião. Sou triste por convicção.

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Segui o conselho de Sócrates. Hoje me conheço melhor que ontem. Ontem eu era mais feliz.

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Teu nome não precisas me dizer, conheço tantos nomes de rainha. Deixa que o teu seja uma escolha minha e pune-me se errado eu escolher.

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A desculpa que costumava dar era a de que, se fosse dedicar-se à vida, não lhe sobraria tempo para ser poeta.

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Mesmo no último dia, talvez você se mantenha presunçoso. Se soar ao longe um violino, quem pode garantir que você não imaginará ser uma homenagem?

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A melhor tristeza é aquela que aprecia ouvir Chopin na penumbra.

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A tristeza demora um pouco para confiar em nós.

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Para resumir rimadamente, os provérbios costumam ser mais paulificantes que edificantes.

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Oitiva e falcatrua são dois pássaros que andam voando juntos por aqui. Ah, e propina.

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Embora se diga que não, dos poetas e dos mágicos se esperam sempre os mesmos pássaros e as mesmas cartolas.

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Se houver desperdício de beijos, suspenderemos o fornecimento.

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Enquanto houver um gato, estará justificada a existência de pelo menos um sofá.

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Não há nada mais cafona e lírico do que um realejo na esquina reproduzindo “Fascinação”.

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Os bons poetas têm acesso às flores e aos pássaros. Os maus poetas também.

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Achar que o haicai é uma espécie de quadrinha de três versos é uma atroz simplificação.

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Os momentos certos estão sempre no lugar errado.

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Todo poema concreto deveria vir com um manual de instruções e cinco anos de garantia.

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A literatura é um vício que talvez um dia qualquer homem possa admitir na hora mais clara de uma manhã de domingo.

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A chave de ouro de um poema concreto é o habite-se.

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Não tenho visto mais por aí aquelas pequenas lojas especializadas em reparos de poemas concretos.

Raul Drewnick

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