quarta-feira, setembro 19

Filhos conectados, livros fechados?

“Socorro, meu filho não lê!” O hábito da leitura, ou melhor, a falta dele, é um dos assuntos que mais costumam afligir pais e mães de crianças em idade escolar. Preocupados, os adultos muitas vezes pressionam seus filhos ou cobram da escola alguma medida milagrosa que contamine o aluno com o “vírus leitor.” Os resultados produzidos por ambas as medidas costumam ser bastante insatisfatórios, o que não significa que devemos jogar a toalha. Há, sim, diversas medidas e atitudes que os adultos podem tomar que impactam na relação da criança com o texto. A seguir, reunimos algumas para você experimentar:

Dica #1: Não critique os títulos preferidos por seus filhos

A afirmação que o jovem de hoje não lê é apenas parcialmente verdadeira. Ele pode não estar com o nariz enfiado em um clássico da literatura, mas quem disse que ler HQ não vale? Aqui vale mencionar um dado interessante da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, divulgada pelo Ibope e pelo Instituto Pró-Livro em 2016: os adolescentes entre 11 e 13 anos são os que mais leem por prazer, sem qualquer obrigação. Por isso, antes de partir para a cobrança, vale observar se o seu filho não está envolvido com outros tipos de leitura. Ele se diverte consumindo esses textos? Então, deixe de lado a lista de obras cobradas pelos vestibulares e lembre-se que um dos fatores que determinam a construção de qualquer hábito é justamente o quanto de prazer extrai-se daquela atividade. Em vez de criticar as preferências literárias do jovem, experimente aproximar-se do universo dele perguntando o que o atrai naquela obra ou naquele autor.

Dica #2: Invista no acervo da sua casa

Tomando como princípio a ideia de que a porta de entrada para a leitura mais complexa é a leitura de fruição, que tal investir na construção de um acervo familiar que atenda aos interesses de todos? Abra mão do compromisso de montar aquela estante bonita, cheia de autores consagrados cujas obras você jurou para si mesmo que lerá algum dia mas que, muito provavelmente, ficarão lá juntando pó. Nada contra a alta literatura, aquela que nos desafia e provoca. Muito pelo contrário! Mas se a sua intenção é incentivar o hábito de leitura em seu filho, de nada adianta criar um depósito de livros que jamais serão abertos ou comentados pela família. A importância da leitura por prazer para a própria sobrevivência da literatura é defendida, inclusive, por grandes críticos e teóricos da linguagem. Gente como o búlgaro Tvetan Todorov vem alertando para os perigos do excesso da teorização na experiência do leitor há tempos. Todorov nos ensina que, para que um dia seu filho seja capaz de desfrutar de Grande Sertões: Veredas, ele pode – e deve! – começar por Harry Potter.

Dica #3: Leia

Sabe aquela velha frase “Faça o que eu digo, não o que eu faço”? Pois bem, quando o assunto é o hábito da leitura, este é um dos maiores deslizes cometidos por pais preocupados com a formação dos filhos. Apoiados em um sem número de pretextos, das demandas do trabalho aos compromissos familiares, os adultos também deixam os livros para amanhã. Sabemos que as crianças aprendem muito pelo exemplo. Ver os pais imersos na leitura de algo que, de fato, os interessa, é essencial para que elas valorizem o contato com a palavra escrita.

Para surtir efeito, é importante que essa atitude esteja ligada a uma sensação de prazer ou de realização. Aqui, cabe lembrar a dica anterior sobre o acervo familiar. Você já se perguntou o que gostaria de ler? Vale de tudo: a biografia de seu ídolo de infância, o último best-seller policial, uma graphic novel (romances em forma de HQ), um apanhado de citações de alguma personalidade que você julgue interessante…Não há certo ou errado! O importante é que o livro venha a fazer parte da paisagem e dos hábitos da casa.

Dica #4: Faça da ida à livraria (ou ao sebo) um passeio familiar

Você já pensou em trocar o passeio ao shopping por uma visita a uma das charmosas livrarias de rua de São Paulo? Para quem tem filhos pequenos ou pré-adolescentes, há inclusive espaços dedicados exclusivamente à literatura infantil e infanto-juvenil. Com projetos caprichados, essas lojas costumam oferecer também uma rica programação cultural que vai da contação de histórias para os pequenos às tardes de autógrafo para os mais velhos.
A visita à livraria convida a criança e o jovem a degustarem os títulos expostos. Quem nunca foi seduzido por uma capa bonita? Saborear a obra antes de comprá-la, ter que escolher entre dois livros bacanas e deixar o outro para depois (olha aí a desculpa para visitar, novamente, a livraria!), puxar conversa com outras crianças que estejam espiando a mesma estante, pedir dicas à equipe de vendedores (eles costumam ser muito bem preparados e dispostos a ajudar!) são apenas alguns dos motivos para ir com os filhos a uma livraria.

Dica #5: Incentive seu filho a compartilhar livros com os amigos, colegas e parentes

Uma das formas de cultivar o prazer da leitura é compartilhando nossos títulos favoritos com os outros. Quando a criança divide o livro dela com um amigo ou colega, ela está convidando o outro a explorar algo de seu universo particular. Além de permitir a descoberta de afinidades, esse gesto também leva ao desenvolvimento de inúmeras habilidades como a capacidade de expressar opiniões, de discordar com respeito e até de lidar com a frustração de o outro não se entusiasmar pela nossa indicação. Para os mais velhos, trocar livros pode render ótimos papos, além de abrir portas para a discussão de temas tão importantes quanto delicados, como amizade, sexualidade e inseguranças sobre a vida adulta.

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