quarta-feira, novembro 4

Na biblioteca

Basileu circunvagou os olhos, deslumbrados, pelas estantes que se enfileiravam no amplo salão da biblioteca. tudo muito baixo, ao alcance da mão dispensando escadas ou escabelos.


- Que fartura! explicou ele - A gente não sabe por onde começar , nem se vale a pena começar.

Livros e mais livros, todos encadernados em pelica ou marroquim, Os filósofos, os teólogos e os moralistas austeramente vestidos de nego; os juristas enroupados de vermelho; romancistas e poetas, em azul e em rosa; em verde claro as viagens e em verde escuro os historiadores e os memoralistas. Todos esperavam o almejado leitor que lhes comunicasse às páginas tipografadas uma breve palitação de vida. Esperavam em vão, pela maior parte. Quem sabe quanto tempo decorrerá, antes que alguém lhes faça um sinal de amizade e se disponha a retirá-los do esquecimento? Um dia, um mês, um ano? cinco, dez, vinte anos? Talvez mais. Talvez jamais. Só uma coisa é certa, e é que, como tudo neste mundo se destina a ser comido mais cedo ou mais tarde, os insetos bibliófagos não tardarão em repastar-se largamente naquela montoeira de papel impresso.
Eduardo Frieiro, "Basileu"

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