quarta-feira, dezembro 14

Universo de J.R.R Tolkien é expandido com dois novos livros

Agora que acabou a primeira temporada de O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder, o que os fãs de Tolkien devem fazer enquanto aguardam a próxima? Fique tranquilo: a obra literária de Tolkien parece ter uma mala de viagem encantada, com maravilhas que surgem muito depois de parecer vazia.

Este mês apareceu The Fall of Númenor (A queda de Númenor), um tesouro de material sobre uma das histórias de fundo mais intrigantes e centrais da Terra Média. O livro é lindamente ilustrado por Alan Lee e agilmente editado por Brian Sibley, que trabalhou em uma dúzia de projetos anteriores de Tolkien. Compilado a partir de material já publicado, o livro é um acréscimo útil para colecionadores de Tolkien e também uma boa introdução para aquelas pessoas cujo único conhecimento da ilha condenada vem de Os Anéis do Poder.



Númenor foi a tentativa de Tolkien de lidar com o que ele chamava de “complexo de Atlântida” ou “assombração de Atlântida”. Em uma carta de 1964, ele escreveu: “Esta lenda ou mito ou memória vaga de uma história antiga sempre me perturbou. Dormindo, tinha o sonho terrível da Onda inelutável, vindo de um mar tranquilo ou se elevando sobre as ilhas verdes. O sonho ainda me ocorre de vez em quando, embora hoje exorcizado pela escrita a respeito”. De fato, indícios da história cataclísmica de Númenor aparecem em O Senhor dos Anéis, com relatos mais longos registrados em outras partes do vasto legendarium de Tolkien. Em poucas palavras:

No final da Primeira Era da Terra-Média, o malvado Morgoth Melkor é derrotado por uma aliança de elfos e homens. Os valar, “Guardiões do Mundo”, são guiados por Ilúvatar, o Todo-Poderoso, para recompensar esses homens com sua própria ilha paradisíaca, um lugar “apartado dos perigos da Terra-Média”. O único obstáculo é a “Proibição dos Valar”, que impede os numenorianos de navegar ainda mais para o oeste, fora da vista de sua ilha natal, ou pisar nas Terras Imortais, onde vivem os valar e os elfos escolhidos.

Os homens são mortais; os elfos e os valar, não. Para facilitar o acordo, os numenorianos recebem uma vida útil de centenas de anos, junto com a promessa de uma existência pacífica em sua ilha paradisíaca. Anos de felicidade se seguem. Com a proteção dos valar e a amizade com os elfos Eldar, o povo de Númenor prospera durante a Segunda Era.

O relato desse período da história numenoriana é longo e bastante monótono, apesar de uma história de amor malfadado. Como Tolkien observa em O Hobbit, “É estranho que as coisas que são boas de se ter e os dias que são bons de viver muito bons ouvir, ao passo que as coisas que são desconfortáveis e até mesmo horríveis podem dar um bom conto”. Felizmente para os leitores, muitos problemas estão acontecendo em outras partes da Terra-Média, onde Sauron, o servo mais poderoso de Morgoth, ressurgiu. Ele é derrotado novamente, mas não antes que os Anéis de Poder tenham sido forjados sob sua tutela, semeando a discórdia entre elfos e numenorianos.

A essa altura, os numenorianos, marinheiros brilhantes, criaram gosto pela colonização e exploração. Eles ficaram impacientes com a Proibição dos Valar: por que não deveriam ser imortais também? O “sempre astuto” Sauron (você não achou que ele estava morto, achou?) segue para Númenor. Ele usa três de seus Nove Anéis para enredar homens poderosos (que depois se tornam Nazgël) e encoraja o governante de Númenor a navegar para o oeste e conquistar as Terras Imortais.

Aqui as coisas desconfortáveis e horríveis de Tolkien são empregadas com grande efeito, pois o povo numenoriano, obcecado com as artes necromânticas, adora Melkor e enche “toda a terra com tumbas silenciosas nas quais o pensamento da morte foi consagrado pela escuridão”. Eles escravizam outros homens e especialmente os elfos, a quem passaram a odiar por sua imortalidade, e os sacrificam a Melkor (Alan Lee ilustra isso em uma pintura arrepiante). Apenas um pequeno grupo de numenorianos continua fiel aos Valar e planeja navegar para o leste e buscar refúgio com os elfos da Terra-Média.

Se você leu O Senhor dos Anéis ou assistiu a Os Anéis do Poder, cuja maior parte se passa em Númenor, sabe que a história não vai acabar bem para aqueles que dispensam os valar. The Fall of Númenor serve como um bom companheiro para a continuação da série da Amazon. E os leitores dedicados de Tolkien encontrarão muito com que se surpreender e encantar. Minha parte favorita diz respeito ao misterioso destino das entesposas, em uma carta de Tolkien de 1954: “Algumas, é claro, podem ter fugido para o leste ou até mesmo sido escravizadas (...). Se alguma sobrevivesse, estaria bem distante dos ents, e qualquer reaproximação seria difícil – a menos que a experiência da agricultura industrializada e militarizada as tornasse um pouco mais anárquicas. Espero que sim”.

Entesposas como eco-guerreiras anarquistas! Tomara que os produtores de Os Anéis do Poder tenham anotado isso.The Fall of Númenor seria um ótimo presente de Natal. Mas, para fãs especialmente merecedores de Tolkien, talvez seja melhor a suntuosa nova edição de O Silmarillion, ricamente adornada com pinturas, desenhos e mapas de Tolkien, além de um trecho de O Conto de Túrin escrito no alfabeto rumiliano, usado apenas pelos elfos de Valinor. Tolkien era um artista talentoso cujo trabalho mostra claramente a influência do movimento Arts and Crafts da Grã-Bretanha, bem à vontade com paisagens visionárias e artes decorativas, como demonstrado por dois desenhos de tapeçaria numenoriana. Olhar para estas imagens à espera das férias vai inspirar você a escrever uma carta ao Pai Natal – em rumiliano, claro.

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