segunda-feira, maio 29

Drummond e a pedra

No caminho cheio de pedras, só Drummond viu com suas retinas fatigadas que no meio tinha uma que os outros poetas todos, com suas retinas descansadas, não tinham conseguido ver.
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A literatura brasileira e Dalton Trevisan moram na mesma cidade: Curitiba. Nas raras vezes em que ela e ele são vistos, estão sempre juntos.

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No dia em que finalmente a Academia lhe concedeu o Nobel, o velho escritor reconciliou-se com Deus e para celebrar o ato pediu ao Senhor que, assim que pudesse, lhe desse o bicampeonato.

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Dou graças à minha tristeza, que, sempre atenta, jamais me deixou ser como esses tipos capazes de se afogar em gargalhadas diante de um bufão imitador de passarinho.
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Andei falando em nome da Poesia. Prenderam-me aqui, desmascararam-me ali, surraram-me acolá. E onde me prenderam, e onde me desmascararam, e onde me surraram eu me declarei culpado, culpado, culpado. Teria sido feliz, mas não. Acusaram-me sempre de tudo. De farsa, de engodo, de trapaça. Mas jamais do pecado imortal da simonia.
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Eu era um menino e já sabia que, se tinha alguma vantagem sobre os outros, ela era a tristeza que me angustiava o peito e pedia algo mais que as lágrimas para expressar-se.

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Se eu precisasse confiar minha tristeza às mãos de alguém, escolheria as de Chopin.
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Sou um personagem sem vontade e sem coragem. Sou o rei dos poltrões. Se minha vida fosse uma peça de teatro e tivesse três atos, precisaria ter, pela lei das proporções, três mil trezentas e trinta e três omissões.

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É isso mesmo, pode crer. A vida é para os tolos e os felizes, enquanto assim eles puderem ser.
Raul Drewnick

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