segunda-feira, maio 15

Pelo buraco da fechadura

Na sala de aula, Elsa e Ale sentavam juntas. Nos recreios caminhavam de mãos dadas pelo pátio. Dividiam os deveres e os segredos, as travessuras.

Um dia, de manhã, Elsa disse que tinha falado com a avó morta. Desde então a avó começou a mandar mensagens para as duas. Cada vez que Elsa afundava a cabeça na água escutava a voz da avó.

Um dia Elsa anunciou:

– Vovó diz que vamos voar.

Tentaram no pátio da escola e na rua. Corriam em círculos e em linha reta até caírem exaustas. Se arrebentaram umas quantas vezes saltando dos muros.

Elsa afundou a cabeça e a avó disse:

– No verão vocês voam.

Chegaram as férias. As famílias viajaram para praias diferentes.

No fim de fevereiro Elsa voltava com seus pais a Buenos Aires. Pediu que parassem o carro na frente de uma casa que nunca tinham visto.

Ale abriu a porta.

– Voou? – perguntou Elsa.

– Não – disse Ale.

– Nem eu – disse Elsa.

Se abraçaram chorando.

Eduardo Galeano, “Dias e noites de amor e de guerra”

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