Don Pierrot de Navarra tinha um companheiro de mesma raça, e não menos branco do que ele. Tenho acumulado na “Sinfonia em Branco Maior” todas as expressões para dar ideia de que uma brancura como a da neve seria insuficiente para qualificar a pelagem imaculada de minha gata, ao lado da qual a pele do arminho pareceria amarela. Eu a chamei Seraphita, em memória ao romance swedenborgiano de Balzac. Jamais a heroína dessa lenda maravilhosa, quando escalava com Minna os picos cobertos de neve de Falberg, deixava de irradiar brancura mais pura. Seraphita tinha um temperamento sonhador e contemplativo. Passava longas horas imóvel sobre uma almofada, sem dormir, os olhos a seguir, com uma atenção de extrema intensidade, espetáculos invisíveis para os simples mortais. Ela gostava de carícias, embora as aceitasse de forma muito reservada, e apenas de pessoas a quem houvera honrado com sua aprovação, dificilmente concedida. O luxo lhe agradava, e sempre estávamos seguros de encontrá-la enovelada na poltrona mais nova ou sobre a peça estofada que mais se assemelhasse a um encosto com penas de cisne. Sua toalete levava um tempo enorme; sua pelagem era cuidadosamente alisada todas as manhãs. Ela usava suas patas para lavar-se; e cada pelo do seu velo, depois de escovado com a sua língua rosada, brilhava como prata nova. Quando tocada, ela imediatamente apagava os vestígios do contato, pois não suportava estar desalinhada. Sua elegância e distinção sugeriam uma ideia de aristocracia; e, entre os de sua raça, deve ter sido ao menos uma duquesa. Ela se deleitava com perfumes, mergulhava o focinho nos buquês, mordendo, com pequenos espasmos de prazer, os tecidos impregnados com o olor; caminhava sobre a penteadeira entre os frascos de perfumes, farejando as rolhas; e se houvesse sido autorizada a fazê-lo, ter-se-ia lançado pó de arroz com prazer. Tal era Seraphita; e jamais uma gata justificou melhor um nome tão poético.
Theóphile Gautier
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